sábado, 15 de setembro de 2012

EMANAÇÃO - QUEDA - REGENERAÇÃO – REINTEGRAÇÃO

Por J. M. Mahou**

Antes do tempo, Deus, a causa primeira emanou espíritos que possuíam em si uma parte da dominação divina. Simbolizavam a essência de Deus e eram participes. Estes seres existiam no seio da divindade, mas sem distinção de ação, de pensamento e de entendimento particulares, somente poderiam agir ou sentir através da vontade única do Ser superior e infinito que os continham e no qual todos estariam em movimento; o que não seria verdadeiramente existir.

Estes seres livres seriam investidos de um culto fixado por leis, de preceitos e comandos eternos. Neles suas virtudes e potências seriam grandes, mas sua sublime origem lhe impunha de somente agir como causas segundas e devendo assim se satisfazer.

Eles observavam, portanto, o Eterno assim como um congênere e desejaram, por sua vez, emanar a seu turno e sendo único chefe, criaturas espirituais que dependessem deles-mesmos , e nos mesmos moldes, como eles dependem de Deus. Resolveram de operar em prejuízo das leis que o Eterno teria prescrito para limitar suas operações espirituais divinas.


Como punição por esta vontade criminal e antes que pudessem exercê-la eficazmente, os espíritos perversos foram precipitados em lugares de sujeição, de privação e de miséria.

Deste modo o Eterno criou o universo temporal para ser o lugar fixo onde estes espíritos perversos exerceriam em privação sua malícia. Onde, também, eles foram privados de toda comunicação com Deus.

O criador exerceu tão energicamente a força da lei contra os primeiros espíritos prevaricadores (do qual Caim retoma o tipo) que seu tormento consiste ser sujeito à operar o mal e de ser condenados a viver por uma eternidade temporal em suas iniqüidades sem poder mudar suas ações más e contrárias à ação divina.

Para dotar esta prisão com uma espécie de guardião, Deus emanou o “primeiro homem”, feito, à semelhança do criador. Este ser espiritual gozaria da comunicação integral e imediata de todo pensamento divino e demoníaco.

O primeiro homem, o Adão Kadmon ou celeste foi, portanto, emanado do criador e uma formidável potência espiritual divina lhe foi confiada e esta não poderia ser de outra forma porque este ser espiritual divino seria efetivamente em sua emanação um espírito puro (e sem macula) e deveria manifestar a glória, a justiça e a força do criador na criação universal, lugar de privação para os primeiros espíritos prevaricadores.

Esta seria a missão deste “Adão protótipo” e dele deveria sair uma posteridade toda espiritualizada de acordo com os preceitos do Criador.

O Adão Kadmon teria sido emanado livre e foi emancipado na imensidade supra-celeste para cumprir sua missão. Deus o deixou agir segundo seu livre arbítrio. Mas Adão foi seduzido pelo Demônio. Em vez de combater os primeiros espíritos perversos, de conte-los e de agir sobre sua vontade má e assim colocar fim ao mal, no lugar de todas estas nobres prerrogativas, Adão, homem glorioso, caiu e Deus o transforma em um ser semelhante àquele que ele havia produzido por sua única operação. Adão transgrediu as leis divinas, cedeu a sede egoísta da existência individual.

Cada um de nós segue este mesmo traço, experimentamos este mesmo desejo de separação. Porque cada vez que um espírito desce para se encarnar em uma forma qualquer, ele comete o pecado original e a queda de Adão se reproduz e se cumpri nele, ínfimo submúltiplo de Adão.

E é assim que o homem ou o menor como o chama Pasqually torna sujeito dos sujeitos que teriam sidos submetidos à sua potencia e à seu comando primitivo. Enfim, Deus o destina a terra como residência com todas as penas desencadeadas por uma semelhante excentricidade.

Esta queda, esta descida do mundo espiritual onde tudo estava em perfeito equilibro e em total harmonia, para as regiões temporais onde reina como mestre o espaço e o tempo, esta queda, lembrem-se meus Irmãos e Irmãs, vocês vivenciaram na sua iniciação ao 1º grau quando que, do centro do Pantáculo, potentes e formidáveis, fostes projetados para o exterior, passando por sete pontos, abandonando este estado de felicidade e o trono de vossa glória que Deus vos havias assinalado. Criado espírito de luz vós haveis contrariado a lei da unidade e caístes.......

O Adão celeste ou glorioso era revestido da dupla potência espiritual ou octenário e esta era tão considerável que malgrado sua prevaricação permaneceu ainda superior a todo outro ser espiritual, seja emanado, seja emancipado antes dele. Por sua queda, e por sua própria vontade, Adão perdeu esta dupla potência e foi reduzido à potência quaternária simples do menor. O menor, na terminologia de Pasqually, significa este espírito saído de Deus, este verbo fragmentário que reside no mais profundo de nosso ser.

O homem, cuja queda é em todo ponto semelhante àquela de Adão, possui nele também esta potência quaternária: potência da liberdade, do pensamento, da vontade e da ação.

Consecutivamente à queda do primeiro homem, numerosos espíritos foram emanados e emancipados nos diferentes mundos da criação universal e ficaram sujeitos à contribuir na reconciliação e na purificação dos menores.

Quando o homem toma consciência de sua degradação, quando se arrependendo, confessa seus erros, quando igualmente deseja com ardor se reconciliar com seu criador, a misericórdia divina o reporá em seu primeiro princípio, em seu primeiro grau de glória e lhe restituirá esta sublime lei divina que ele havia rejeitado ao se desviar.

Somente o homem não tem como obter do criador esta potencia sem trabalhos infinitos e sem sofrer o castigo do corpo, da alma e do espírito.

O homem deve sair de seu estado de inconsciência relativa para conquistar um estado de lucidez espiritual como outrora o povo de Israel teve de sair do Egito e se liberar de sua submissão e de seu estado de privação.

E assim como nós nos servimos de imagens emblemáticas, como não evocar o templo que Salomão construiu à glória de Deus e ver neste templo a imagem do Adão Glorioso, este ser universal que enquanto puro espírito seria o verdadeiro Tabernáculo da lei divina. Por outro lado, todas as proporções do templo, suas dimensões, os materiais utilizados não figuram e não simbolizariam eles, reproduzindo, as leis universais que governam e dirigem toda coisa e todo ser ?

Martinez precisa que é o coração do corpo do homem uma das quatro partes do Tabernáculo do menor corporificado. O coração é, portanto uma porta que dá acesso ao nosso espírito espiritual divino. E a chave? É o desejo espiritual.

A destruição do templo pelos Assírios quando Nabucodonosor era rei figura então a queda do homem espiritual, sua degradação e a perda de sua unidade consciente com Deus, desde então ele se distância das leis, preceitos e comandos Divinos.

Mais tarde, após sua saída do cativeiro, Zorobabel reconstruiu o templo sobre as ruínas do precedente, figurando a etapa que conduziu o homem de desejo, em fim liberto dos atrativos deste mundo, ao estado de novo homem. Esta etapa se cumpriu com os infinitos auxilios divinos, porque Deus somente deseja o bem para o Homem. É o caminho da reconstrução do homem verdadeiro, de sua reconciliação com os princípios espirituais e de sua regeneração.

Esta etapa é figurada pela segunda viagem do grau 1 quando o recipiendário, eis porque sua visão ainda não é “clara”, é guiado por uma mão segura. Mas ele é também sobretudo precedido pela luz símbolo do espírito duplamente forte. É este mesmo fogo sagrado que abrasou outrora o holocausto quando Neemias foi consagrar o templo reconstruído.

Por estas analogias vemos que o homem terrestre é na realidade um microcosmo no sentido mais estrito. Não viu ele, de alguma maneira, durante sua passagem sobre a terra, as mesmas provas, as mesmas alegrias, as mesmas situações que no passado o povo de Israel em todas suas tribulações?

Este longo périplo não seria também ilustrado magnificamente pela parábola do Filho Pródigo?

Segundo Pasqually, o homem efetua somente uma única passagem sobre a terra ao termo do qual ele ascende ao segundo nascimento e finalizará de operar sua ação temporal nos outros céus, isto é, no 3º círculo sensível, visual e racional da imensidão celeste. Depois será reintegrado no seu circulo quaternário da imensidade supraceleste e em fim, no momento da restauração do coração divino, se integrará definitivamente em Deus de onde outrora foi emanado.

Segundo este esquema, tudo conspira ao restabelecimento das leis divinas únicas, tudo converge para a indefinida unidade e isto foi o que Martinez traduziu pela Reintegração dos Seres em Suas Primitivas Propriedades, Virtudes e Potências Espirituais e Divinas.

“Assim, o mal se opõe momentaneamente à norma do bem para manifestar este na eternidade de seu triunfo. Deus não tolera o pecado original, esta inflação ao Bem negativo, que a titulo de gestação tenebrosa e transitória, de onde eclode o Bem positivo: É lá a redenção e a redenção resulta na Reintegração” ( Stanislas de Guaita).

Nossos Mestres Passados nos indicaram a Via; a luz de seu candelabro clareia nosso caminho por mais sofrido que seja este caminhar. Saint-Martin, em fim, em suas obras, nos propõe de ricas meditações e nos transmite eficazes meios de ação.

Cabe a nós trabalhar com ardor e zelo nesta grande Obra, de trabalhar sempre e sem descanso, o que, para todos Martinistas é um imperioso dever.

*** Retirado e traduzido "Bulletin de Liaison", No 14, páginas 16 à 25, 1991.