quinta-feira, 23 de abril de 2015

OS FANTASMAS NOTURNOS E AS VISÕES SOBRENATURAIS por PAUL SEDIR (2a parte)

Como interpretar os sonhos, entendendo aqueles vindos do Espírito puro?

Estes são socorros, ajuda; é preciso tentar compreende-los para poder utilizá-los, e estes somente ocorrem por deferência.

Por que, talvez perguntem, o Céu não nos concede estes ensinamentos sob  uma forma mais inteligível ? Para nos fazer trabalhar; para nos fazer aprender uma lição ignorada e que nos seria indiferente se a curiosidade não nos alfinetasse; para nos conduzir para a Vida, cuja tendência orgulhosa do  mental nos desvia sensivelmente. A língua do sonho é uma língua universal, a língua da vida. Os simples a compreendem, porque estão mais pertos da realidade, porque se contentam em viver. De todos os simples, é o místico o que melhor decifra esta linguagem, e que, alem disso, fala, porque é ele quem vive com mais profundidade e mais intensidade.

Os seres complicados, ao contrario, de determinadas culturas artificiais, presos nos sistemas, nas abstrações, nos jogos metafísicos, não percebem mais a Vida, mas somente seu reflexo mental.

A ciência dos sonhos é, portanto intuitiva, uma ciência do coração, uma arte propriamente dita. Exercê-la é um trabalho excelente para a inteligência, para a imaginação, e nos faz progredir no conhecimento de nós mesmos. Porque se a medicina hipocrática observasse cuidadosamente os sonhos dos doentes, a vida do sono esclareceria também, de maneira mais feliz, as dobras do ser interior e as imagens do inconsciente.

Digamos logo que, nas noites em que acreditamos serem sem sonho, os sonhos não compreendidos contêm, quase sempre, uma força muito ativa. Somente assimilamos bem o que nos é muito próximo; assim a união divina é difícil, porque estamos longe de Deus; assim o discípulo do Cristo, quase sempre, só tem para  conduzi-lo, as trevas profundas da fé.

Para melhor julgar os sonhos divinos, é preciso primeiro viver no ambiente da Verdade. Nada em nós é puro, nem o coração, nem os nervos, nem o  princípio pensante; nenhuma percepção é portanto exata. De mais, o mal que emanamos vicia a atmosfera circundante em torno de nós e deforma os objetos. Na imensa maioria dos casos, aquele que dorme não vê com exatidão; não entende bem as palavras de sua visita espiritual; os meios que separam os espíritos dos homens do plano da Verdade concedem sempre  refringências. E nossos sentidos, corporais ou espirituais, não obtêm mais que certezas aproximativas. 

Por conseqüência, na interpretação dos sonhos, é preciso guardar-se das crenças supersticiosas e lembrar que nós somos velados pelo Cristo com o  cuidado mais terno e o mais vigilante.

Em segundo lugar, é preciso apreciar a profundidade do sono. Da mesma maneira que, quando trabalhamos, algumas partes somente do ser trabalham enquanto o resto permanece indiferente, igualmente o corpo não dorme nunca totalmente. Além do mais, o espírito pode se cindir; um dos seus órgãos pode descer às entranhas da terra, um outro ir à China. O espírito do corpo físico nada mais é do que o corpo do espírito total; cada víscera possui seu espírito; o espírito de um braço pode sair de um lado, o espírito da cabeça, de outro. Todos os reencontros, feitos em lugares tão diferentes, impressionam o cérebro, desde que encontre uma célula receptiva; se estas impressões são  simultâneas, os sonhos  se superpõem; o adormecido sonha uma cena, e, nesta cena, ocorre um segundo sonho. Já vi até dez ou doze sonhos assim entrelaçados. Se possuirmos uma grande calma, lembraremos; do contrário tudo se confunde em uma mistura incoerente. Não é fácil explicar seus próprios sonhos; Veja então quanto os sonhos dos outros podem ser embaraçosos. 

Em terceiro lugar, é preciso conhecer as relações biológicas do adormecido; discernir as afinidades da cada parte de seu  indivíduo com os três reinos, com os outros homens, com seu país, sua religião, seu planeta. Esta condição é muito difícil de cumprir; mas o comum dos homens pode, sem ela, adquirir uma intuição suficiente para as necessidades ordinárias; no caso excepcional de um discípulo, destinado a uma missão especial, encontra-se sempre perto  dele alguém mais avançado para instruí-lo.

Há duas classes de sonhos: aqueles provenientes do temperamento e aqueles que respondem à preocupação dominante. O homem interior, de fato, recebe as influências dos elementos e dos planetas, do Spiritus mundi, como dizem os hermetistas; e sua vontade imprime ao temperamento uma direção conforme seu ideal: busca de fortuna, ou de honras, ou da ciência, ou de paixão.

Se um pintor sonhar a  mesma cena de um químico, por exemplo, o sentido da visão deferirá; ver um curso d´água pressagia uma coisa a um homem político e uma outra à uma mãe de família. Assim, cada pessoa, devido sua própria individualidade e a qualidade central de seu eu, comunica-se com um centro diferente do Invisível. Dando origem a um terceiro fator devido à diversidade dos simbolismos. É o bispo Synésius quem menciona esta particularidade importante. Isto obriga cada pessoa a construir um dicionário pessoal. Mas se seguirem o Cristo com todas as suas forças, a parte da Natureza será reduzida ao minimum, em seus sonhos e em todas as suas atividades, enquanto a parte sobrenatural aumentará.

Este ponto é capital para nós, dedicados ao estudo da Luz evangélica. Como procuramos Deus através de nossos trabalhos e nossos temperamentos individuais, saímos dos domínios da Natureza. Quanto mais nossa busca é ardente, sincera, desinteressada, menos as cadeias da matéria, as rodas astrais, os satélites dos deuses agirão sobre nós. A chama de nossa devoção ao serviço de Jesus libera todo nosso organismo. Desde então, durante as noites, estes não são mais os habitantes de tal  reino elementar, de tal planeta que vem nos  visitar; são os servidores invisíveis e particulares do verbo. As energias recebidas não descem mais de tal ordem criada; elas chegam em linha direta do mundo central vivente da Luz, da Verdade, da Vida.

Por conseqüência, a interpretação de nossos sonhos é especial. Ela desprende  de uma lei primitiva, a saber, a vida da Matéria é sempre oposta à do Espírito. Uma, é o egoísmo, a luta pela vida, o terrestre; a outra é amor, o sacrifício, o celeste. Assim, aos olhos do discípulo do Evangelho, toda felicidade mundana é uma infelicidade divina, todo sofrimento corporal é um júbilo espiritual, e inversamente; se no sonho choramos, estamos aflitos, feridos, significam prazeres, sorrisos e sucessos para a personalidade exterior.

O soldado do Céu é instruído diretamente pela Verdade, deixe-me redizer. É o Verbo Jesus que o conforta e o ensina. Ora, nenhum grão levanta sem que a porção de terra, onde foi semeada, não sofra por lhe fornecer o sustento necessário. O homem natural é a terra; a essência do Verbo em nós é a semente. Para que este locatário se torne uma chama, é preciso que seu envelope, a personalidade, se deixe consumir.

Para nós que não procuramos satisfazer nem as conveniências do corpo, nem as curiosidades da inteligência, mas somente o instinto sagrado do reencontro divino; para nós que somente nos preocupamos com o tremor silencioso da  regeneração mística; que nos esforçamos em renunciar ao eu; que nutrimos um único desejo: Jesus e seu Reino, os sonhos se revestem de gravidade e de profundidade, pois são as visitas dos amigos de nosso Amigo. 

Para os discípulos sinceros que desejamos ser, é bem lógico que, por exemplo, os sonhos de cantos, de músicas, danças, pressagiam dores morais; os sonhos fúnebres e os mortos indicam uma próxima transformação interior, mais ou menos completa; os seres baixos, os objetos repugnantes indicam acerto material; a escola, igreja, convento, sacerdotes, monges significam provas purificadoras, iniciação prática. Ver o Cristo, nem que seja em efígie, é um  grande sofrimento; Aquele que conversa em sonho com o Cristo, ou que recebe qualquer coisa Dele, esmola, um copo d´água, pode se regozijar: Ele vai dar um grande passo rumo à perfeição, ele sentirá uma das dores que o  Cristo sofreu. Ações simples, como semear, subir uma encosta, descer, ir de carro, um caminho de ferro, tomar chuva, se referem ao curso cotidiano da existência e se explicam  por eles mesmos. O automóvel indica um avanço gratuito. Animais ou homens de cor negra são sempre perigosos, o mesmo com os gigantes ou monstros. Para o verdadeiro discípulo,  o cão é sempre um amigo, o cavalo um mensageiro, o leão um protetor.

Se o discípulo é bem sucedido, como digo toda hora, em manter a plena possessão de suas faculdades durante o sono, chega a colaborar com um dos grandes trabalhos místicos, àquele de Trabalhador ou àquele de Soldado. Permita-me de dize algumas palavras sobre estas duas funções importantes nas quais qualquer um de vocês pode, um dia, ser chamado a cumprir.

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A grande batalha existente, desde o começo do mundo, entre a Luz e as Trevas tem como árbitro o Pai. O chefe da primeira armada é o Cristo; o chefe da segunda é Satã. Um e outro têm do Pai sua inteligência, seu poder, seus soldados; suas forças são iguais; mas o Cristo tem alguma coisa a mais  que o Adversário, algo bem difícil de conceber; podemos chamar esta vantagem: a sabedoria, ao compreender o sentido pleno desta palavra. A arma do Céu é a doçura; Seus soldados dão tudo que possuem: dinheiro, amizades, ciências, até sua vida. A arma do Inferno é a cólera; seus soldados ferem, roubam e matam.

Esta batalha mística é conhecida por todas as tradições.

O outro aspecto do drama cósmico, é a agricultura. Em todos os lugares onde os soldados das Trevas acabaram de destruir, e em todos os lugares que os soldados do Céu regaram com suas lágrimas e seu sangue, vêem os valetes do  trabalho do grande Semeador. Seu trabalho é misterioso; eles preparam a obra definitiva; João batista é seu chefe. Por seus cuidados, o Reino de Deus cresce insensivelmente; os desertos se fertilizam, as moitas de espinho se cobrem de flores e de frutos; os atalhos, escondidos nos matos, tornam-se estradas diretas e planas. De sorte que, na conciliação final, o Pacífico poderá Se mostrar ao grande sol, Ele que Se mantêm escondido durante séculos inumeráveis, onde  foi a coragem de todos os Seus soldados e a perseverança de todos os Seus trabalhadores.

Estas duas armadas, estes dois povos  possuem chefes. Nós já anunciamos quem são os seus monarcas; cada um é representado sobre cada planeta: Satã pelo Príncipe deste mundo, Jesus pelo Senhor deste mundo. O Príncipe centraliza todo o mal que se comete aqui em baixo; o Senhor recolhe todas as preces e toda a beneficência. Alguns homens, os mais meritosos e os mais humildes, recebem a visita deste Senhor, general entre os soldados, mestre entre os trabalhadores, amigo de Deus e tão unido ao Cristo que se torna semelhante, às vezes mesmo, corporalmente (1).

Porque o Senhor deste mundo, e também o Príncipe, materializa, quando julga útil, um corpo físico; entram e saem da vida, como um de nós, e muitos esbarram com eles sem reconhecê-los. Feliz quem descobre a identidade deste Senhor na aparência adotada. A grande parte dos discípulos crísticos somente se aproxima em espírito; ele se apresenta então sob uma forma familiar, mas com atributos que nenhuma outra criatura poderia se adornar; o Céu não o permitiria. Somente em casos excepcionalmente raros, Ele adota a forma do Cristo; a maior parte das aparições do Cristo para pessoas despertas, extáticas ou em sono, não é verídica; trata-se somente de um servidor que tomou o manto de seu Mestre.

Tudo isto, sem dúvida nenhuma, não terá uma utilidade imediata. Entre as centenas de pessoas que me escutaram, terei feito me entender, provavelmente, somente a uma única; uma só, talvez, se disponha ao verdadeiro trabalho, a única necessária; É para esta que dei estes detalhes e  poderia falar mais dez anos, o que faria com alegria se, no décimo primeiro ano, encontrar um coração pronto para a ação.

Termino esta longa incursão nos domínios secretos do misticismo.

O discípulo para aproveitar destas colaborações celestes deve ser simples e integral; deve habitar no reino da Paz. O fenômeno do sonho não lhe aparecerá como alguma coisa de excepcional; a seus olhos, é um dos modos da Vida;  é a mesma coisa que a vigília; a sua contrapartida, o complemento, o prolongamento. Interpreta como as circunstancias materiais, pois que todo o universo nada mais é para ele que a expressão da potencia e da vontade divina. Não percebe as divergências, mas as concordâncias; nem as similitudes aparentes, mas as identidades profundas. Bem melhor ainda que o ocultista, ele sabe que tudo se corresponde; que cada molécula de seu corpo possui uma afinidade com tal acontecimento, tal gênio, tal ciência, tal planeta, tal tentação, tal virtude. Ele sabe que as imagens invisíveis podem entrar no mental por muitas portas; pelo espírito do dedo, dos ossos, bem como pela do cérebro. Quando se bate à noite contra os negros adversários, ele não se surpreende no outro dia de manhã ao sentir fisicamente o cansaço e as contusões; se algum Amigo secreto o reconforta com uma bebida [medicinal] ou com um maná, ele não é surpreendido ao não sentir nem fome e nem sede, por vários dias, talvez.  

Assim, vês, há uma enorme diferença entre as visões superficiais, naturais, que atravessam-nos à noite e as atividades místicas que ocupam alguns indivíduos da elite. Como adquirir estas prerrogativas conhecidas em teologia com o nome de visão, êxtases, arrebatamento, como merecê-los? Não devemos procurar adquiri-los, pois o verdadeiro cristão se remete para tudo a seu Mestre; não podemos merecê-los, pois tudo isto que vem do Céu é gratuito, nenhum de nossos esforços pode pagar os dons de Deus. A única coisa possível é se colocar nas condições menos desfavoráveis para receber esta ajuda.


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O sono é um fenômeno muito importante digno de alguma preparação. É o tempo da atividade interior mais elevada. O espírito do homem piedoso sobe então ás regiões mais elevadas possíveis para sua capacidade atual; ele desce para o despertar; mas, sem preparação, não subirá até o limite de sua força ascensional.

Primeiro, como dormir?

Temos o dever de fornecer ao corpo o tempo de repouso necessário.  O sono  antes da meia noite é o melhor. A cama deve estar com a cabeceira na direção do norte ou este. A cor geral do quarto, das tinturas, das cobertas, acalma onde domina o azul ou a malva e mais força se for o amarelo imperial. É bom estarem as janelas abertas e as cortinas fechadas. Não dormir com luz incidindo diretamente sobre a cabeça. Uma sopa frugal, uma boa limpeza antes de se colocar na cama, eis para o material.

Quanto ao espiritual, há duas preparações; uma geral: é a boa conduta segundo  o Evangelho; a outra imediata: é a prece a Deus unicamente. A Oração dominical é suficiente, se modificarmos o quarto pedido, dizendo: “Dê-nos  nesta noite nosso pão cotidiano” Então o Pai, Senhor de todos os seres, nos  escuta.

Ele nos envia Sua clemência evitando, assim, contaminações espirituais atraídas por nossas faltas diárias. Ele nos envia Sua proteção descartando os  atentados possíveis de certos parasitários invisíveis. Sua misericórdia e Sua ajuda são anjos reais que asseguram a integridade de nosso espírito vital e o  comércio com a Luz de nosso espírito psíquico.

O “pão cotidiano” comporta todos os pedidos possíveis, pois tudo isto que podemos receber espiritualmente nutre alguns de nossos corpos invisíveis. Mas, para que nossos sonhos sejam os mais sãos, os mais úteis, os mais frutíferos, não peça o extraordinário, nem trate de coisas misteriosas. Peça aquilo que vos esclareça sobre tuas faltas do dia, sobre teus trabalhos do dia seguinte, que mostre os melhores métodos para te conduzir ao bem. Esta é a sabedoria prática, pois estamos aqui somente para o cumprimento do dever cotidiano. 

Seguramente, já observastes, se já teve pesquisas sem resultado, e passou noites na procura da solução de um problema ou no meio de contornar um obstáculo, e nada encontrando, confessou para si, ou diante de Deus, tua ignorância e tua impotência, e então a dificuldade se resolveu sozinha, em alguns dias, ou mesmo, em algumas horas. Tuas inquietações foram uma prece, prece viva, portanto prece potente. O Céu responde desde que se coloque na calma necessária.

De fato, somos tiranos; é preciso, custe o que custar, que nossas faculdades, nossa vida, funcione conforme as opiniões construídas por nós mesmos. Acontece  seguidamente que estas não podem se sujeitar às nossas exigências; não mais que uma locomotiva rolaria sobre uma estrada. Devemos deixar a ação aos nossos órgãos psíquicos. Não deseje a todo custo ter sonhos; Não tiranize nada em você. Peça ao Céu; Não empregue jamais drogas, talismãs, ritos mágicos, para provocar sonhos reveladores.

Não somos mestres de nós mesmos na vigília, com mais razão, somos menos ainda no sono; precisamos, portanto, de ajuda contra os inimigos possíveis, uma direção, um escudo. Não tente, sob o louvável pretexto de ajudar aos outros, sair em corpo astral; não ponha tua vontade na direção destes trabalhos. Diga  a nosso Amigo: Disponha-me se posso ser bom para alguma coisa; senão  deixe-me em minha ignorância e em meu torpor.

Sonhos tenebrosos: sucubos
Quando, à noite, algum gênio nos aparece, é preciso acolhê-lo com a cordialidade fornecida pela confiança em Deus; esta segurança, já muito rara no plano físico, é muito difícil de conservar no sono. Diga sobre tudo à sua visita que tu não os chamaste, peça-o de reconhecer Jesus, Filho de Deus encarnado; e não siga seu conselho, utilize seu ensinamento somente após um cuidadoso exame. Porque é necessária uma extrema prudência em suas ligações com o “Lado de Lá”; onde encontramos, ainda mais que aqui, usurpadores e simuladores.  Muito constantemente os operários das Trevas são belos e sabem seduzir. O Cristo não receia nos propor, com a simplicidade da  pomba, a prudência da serpente. E este mesmo conselho sobre a prudência me impede de fornecer exemplos práticos: isto seria abrir uma porta a tais inimigos emboscados. 

Se pretendermos lembrar nossos sonhos, é preciso primeiro pedir ao Céu, antes de dormir. Então, assim que o sonho termina, seremos despertos alguns segundos necessários para tomar nota em duas ou três palavras. Pouco a pouco  a memória se habituará. Mas, se formos negligentes, o anjo não nos despertará mais. É importante dormir na serenidade mais perfeita possível; somente pela prece podemos obter o esquecimento das agonias, das cobiças, remorsos, sofrimentos. A calma é necessária para dormir bem, para lembrar-se dos sonhos, e para compreendê-los. Porque, no momento que fizermos, não nos parecerão muito naturais e muito lógicos? É então quando os  compreendemos.

Assim nos habituaremos docemente a reconhecer se o sonho é pessoal ou alegórico, se é referente à ciência, à religião, à pátria; Se tem um valor  profético ou atual; concernente a um amigo, ao passado, ou futuro; se é uma clarividência, uma telepatia, uma visão. 


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 Desde que tenho falado tão longamente de um sujeito que não tem um aspecto muito sério, não infira que o considere essencial. O Cristo ama nos encorajar; que ele nos dê a esperança por meio de uma afeição humana, de um sucesso, ou  de um sonho, Ele é o mestre de Sua escolha. Considerar os sonhos como tolices ou preocupar-se muito, são dois erros. É preciso recebê-los com atenção e reconhecimento, como lições benevolentes, e ao mesmo tempo reconhecer que nossos vícios e nossos defeitos nos impedem de entender perfeitamente estas explicações. Quando fazemos nosso possível para realizar o Evangelho, podemos esperar que um ou dois por mês, de nossos sonhos, serão verídicos, descidos do Reino Eterno. É um pequeno resultado, mas é um resultado. Somos muito fracos ainda; o Céu não pode nos oferecer uma alimentação muito rica, nós não assimilaríamos. Ele nos prepara com pequenas experiências, proporcionais à nossa fraqueza, pequenos trabalhos que não cansam nossa versatilidade. Tudo é admirável à observação piedosa do discípulo; todo aspecto lhe é eloquente, pois fala lhe de Deus.  Admiremos os cortejos dos sonhos; eles nos encaminham para uma admiração mais inteligente e mais profunda.      
  
(1) N. do A: Encontramos alguma coisa análoga no misticismo muçulmano.


* Retirado e traduzido do livro de Paul Sédir: Lês forces mystiques et la conduite de la vie” ,  Paris, edição dos Amitiés  Spirituelles, 1977, Cap. 9,  págs 133 à 150.

TRADUÇÃO: Pseudo-Sedir