sábado, 28 de março de 2015

OS FANTASMAS NOTURNOS E AS VISÕES SOBRENATURAIS por PAUL SEDIR (1a parte)

                    

“Tudo acontece em parábolas,
a fim de que,  vendo, vejam
e não percebam;
e ouvindo, ouçam e não  entendam”.
                                                                                      Mateus,  IV,  12

Durante um terço de nossa existência, nossa ser consciente é condenado ao  repouso. O discípulo cuidadoso e escrupuloso em nada desperdiçar na Natureza e de utilizar todos os recursos oferecidos por ela, espontaneamente, transforma estas horas em trabalho espiritual. É o método desta transformação que hoje explicarei a todos.

Os materialistas ensinam que os sonhos são, ou de origem fisiológica: má digestão,  má circulação, ou de origem mnemônica: lembranças conscientes e inconscientes, associações de idéias por séries sem nexo. Há, de fato, sonhos produzidos por estas causas, e que não possuem nenhum valor espiritual; mas há inúmeros que possuem uma origem objetiva, exterior ao ser e  que contêm  um sentido profético, iluminador ou taumaturgico. Estes são os sonhos propriamente ditos; As Escrituras fornecem inúmeros exemplos.

Vamos primeiro nos reter no fenômeno do sono, depois no mecanismo do sonho; em seguida, procuraremos onde se manifestam as cenas sonhadas;  estudaremos os efeitos dos sonhos, seus significados e enfim a maneira de se preparar para ter sonhos reais.


*                                 *                                  *
  
Não seria útil detalhar todos os sistemas complexos, elaborados pelas diferentes escolas de esoterismo, sobre a constituição do homem. Tenhamos em vista a mais simples.

Além do corpo físico, por si mesmo não é mais que uma  matéria  inerte, três  princípios se unem na composição humana:

* A  vitalidade, o od,  o magnetismo, o duplo;

* O espírito, intermediário parcialmente consciente pelas faculdades sensoriais e  mentais, na maior parte inconsciente para todos os outros órgãos de  relação com o Invisível; é a sede do Eu, da vontade, do livre-arbítrio;

* A alma, essência eterna, incriada, luz do Verbo, atualmente uma lamparina,  mas que tomará todo seu esplendor no momento de nosso novo nascimento místico.

Durante o dia, é o espírito consciente que governa por meio da força nervosa cérebro-espinhal; à noite, esta força estando esgotada, o consciente repousa, enquanto que os acumuladores se re-carregam pelo cerebelo; o espírito  inconsciente, se podemos falar em saída, se distancia do corpo, e às vezes, de fato, se divide; e os atos efetuados em seus trajetos, os encontros feitos, as  cenas às quais assistiu, somente se transmitem à consciência se houver no corpo, e  sobretudo no cérebro, muita força nervosa para registrá-los. Assim, sonhamos constantemente, mas lembramos muito raramente.

Este espírito, intermediário entre a alma e o corpo, não é um halo, uma aura, um ovo fluídico; é um verdadeiro organismo, bem mais complexo e mais  delicado que o corpo de carne e cujos numerosos proprietários assentam em localizações diferentes. Ele possui funções de nutrição, respiração, de  inervação; dos órgãos de locomoção e de percepção; uma inteligência, livre arbítrio; e cada uma destas faculdades se corresponde com uma das partes do corpo físico. Assim como o músculo  engrossa em razão do trabalho regular imposto, igualmente  este espírito se desenvolve  pelos exercícios que lhe são próprios: ambição, inquietude,  esforço  de vontade, virtudes,  vícios. Os treinamentos artificiais do esoterismo o desenvolvem também, mas de uma maneira precoce e anormal. De todos os trabalhos do espírito, somente a luta contra o egoísmo o afina e purifica. 

Além disso, igualmente, no corpo de carne, entram pela alimentação e   respiração, moléculas de toda ordem; no espírito, entram, se instalam, repartem, vivem e morrem todos os tipos de espíritos subordinados. Estas  visitas produzem na consciência as intuições, as idéias, os sentimentos, as descobertas, elas tornam possíveis os acontecimentos da existência, as doenças, os reencontros; enfim  participam na produção dos sonhos.
  
*                                 *                                  *

Durante o sono, o espírito se aventura mais ou menos para longe. Quando      ele vai para um país bem desconhecido, ele se encontra estranho, pois nem seus próprios elementos, e nem as células corporais, possuem afinidades com  as coisas desta região. Devemos observar, se instruir, ir e vir, mas o cérebro não tem como levar à consciência estas explorações, pois suas moléculas  são incapazes de registrar mensagens que não as façam vibrar.

Quando o passeio é curto, ocorre o contrário, como os objetos são mais familiares, a experiência é registrada.

É preciso dizer que estas excursões podem ocorrer durante o dia; mas neste caso nada percebemos, porque a força nervosa é quase toda inteiramente empregada nos atos da consciência, e também, porque nosso cérebro não é robusto o bastante para suportar uma dupla tensão, nem nossa vontade é calma o suficiente para resistir aos desejos novos que nasceria desta segunda vida.

Os sonhos substituem vantajosamente todas as invenções pelas quais a ciência esotérica estabelece as ligações do homem com o invisível. É um fenômeno normal, sadio, acessível a todos. Nenhum gênero de vida especial é pedido. Além do mais, a Natureza prepara com cuidado as melhores condições; o meio é organizado visando nossa instrução noturna como é organizado para nossa substancia corporal. Durante a noite, a circulação magnética-telúrica muda, a atmosfera é desbaratada de certos elementos muito ativos; a lua substitui o sol amarelo, outras ordens de gênios se aproximam da terra; o sol, o mar, as árvores, os animais emanam uma áurea especial e exercem uma  influencia propícia ao desprendimento do espírito.

Tudo isto pode se tornar causa de um sonho: os anjos, os deuses, os demônios, os defuntos, os clichês, as imagens deste que foi, os fluidos em deslocamento nos espaços interiores, os espíritos das coisas e dos viventes, as imagens deste que passa na hora, e de tudo que terá lugar até o fim, em uma palavra, a Vida toda inteira pode tornar-se reflexo no espelho translúcido da imaginação. 

Mas, os fatores mais freqüentes dos sonhos são os clichês do destino pessoal e as visitas dos membros da família espiritual.

Nosso eu central se prende, vocês sabem, ao coração do Universo, no plano do Verbo;  Somos agrupados em famílias. Cada um destes grupos, onde, todos os membros se parecem, mesmo corporalmente, e, naturalmente fazem trabalhos  idênticos, seguem a mesma estrada. Assim, por exemplo, o mais velho da família à qual pertenço possui, em maior perfeição, as mesmas faculdades que  eu mesmo; ele encontra seus diversos clichês, e sempre na minha frente; pode ser que ele receba o clichê da tuberculose aos trinta ou  cinqüenta anos e que eu, encontre somente em dez anos. Sob o ponto de vista de Sirius, este  tempo é insignificante; mas se já estiver nascido sobre a terra quando o “cabeça da fila” tornar-se tísico, posso em sonho ressentir uma dor no pulmão, para me prevenir da prova ainda distante.

Somente sonhamos coisas que possuam uma delegação, uma célula  física ou psíquica da mesma natureza em nosso ser. Para que um clichê me afete, é preciso encontrar em mim um ponto onde se agarrar. O sonho é este contato. É, por isto, que o único fato de ser advertido de uma prova diminui ou aumenta  nossa resistência; as miríades de pequenos gênios cujo trabalho nos faz viver se  inquietam então, preparam-se para a defesa e vão procurar socorro em toda parte.

Assim o ser do homem contém em si os germes de todas as felicidades, de todas as infelicidades e de todas as prerrogativas. Sua dignidade é, portanto, muito alta, sua missão grave e suas responsabilidades pesadas. 

                     *                                 *                                  *

O sonho, observado do plano físico, possui três valores: o primeiro de  profecia, o segundo de instrução, o  terceiro de taumaturgia.

É profético quando produzido  pelo clichê de um  acontecimento  futuro. Ao  explicado sobre os clichês, acrescentamos que nosso espírito pode recebê-los ou simplesmente os ver. No primeiro caso, ocorre um presságio pessoal; no segundo, uma indicação fortuita que interessará ao sonhador somente de longe.

O sonho pode instruir, fornecer um ensinamento, mesmo de ciência positiva,  revelar segredos naturais, resolver uma dificuldade de mecânica, conceder  uma iluminação. Mas um sonho jamais nos ensina sobre a moral de alguém antes de sermos mestres de nós mesmos para conservar, malgrado tudo, sentimentos de indulgência, justiça e de benevolência. De fato, a traição, a duplicidade somente nos ataca quando as merecemos por nossa conduta anterior. Escamotear uma prova é um mau negócio; cedo ou tarde teremos  que sofre-la. 

A atividade do sono, às vezes, é transmitida ao plano físico. À força de  controlar os impulsos nervosos, passionais ou mentais, como meio de os submeter à lei do cristo, na esfera da consciência, o poder volitivo alcança as raízes secretas, na esfera do inconsciente. Adquirimos autonomia no meio dos sonhos mais movimentados; podemos: refletir, julgar, agir, como no físico, com toda a presença de espírito.  

Então o homem interior torna-se responsável, ele é verdadeiro; mas os limites de sua ação se estendem singularmente. E como este estado psíquico somente é acessível quando nosso coração já estiver penetrado no coração universal: o Verbo; os atos do sonho repercutem sobre o físico, devido a potencia que lhe confere esta penetração. Recebemos os benefícios dos anjos, os dirigimos, comandamos com a permissão do Céu; podemos curar, restituir a sorte ou mesmo evitar um acidente. Eis a primeira escala da teurgia.

O cérebro, o aparelho nervoso inteiro e a vida física se sutilizam progressivamente; a matéria pesa menos; e o dia chega quando o sono não é  mais indispensável ao registro na consciência das atividades espirituais. Acabamos por perceber simultaneamente o mundo físico e um dos mundos invisíveis; somos então, como dizem os brâmanes, um Dwidjà, duas vezes nascido, um homem de dupla consciência. Entretanto, observe bem, somente o  discípulo perfeito, do Evangelho, percebe o reino central do Invisível, aquele  onde  habita realmente o Verbo  Jesus. 

O cumprimento dos preceitos cristãos é a única porta desta morada  misteriosa; e a humildade mais profunda é o único alimento que pode sustentar o organismo submetido à esta dupla tensão; nenhum regime,  nenhuma droga, nenhuma disciplina humana permite, à Luz eterna, penetrar o ser do discípulo e de  regenerar até a moela de seus ossos. Contudo, quando um conselho é urgente, o Céu Se esforça para nos transmitir, mesmo durante a vigília, mesmo no turbilhão dos afazeres, não importa onde. Eis certos  fenômenos de telepatia, clariaudiência, e das aparições.



Continua.....

** Retirado e traduzido do livro de Paul Sédir: Lês forces mystiques et la conduite de la vie” ,  Paris, edição dos Amitiés  Spirituelles, 1977, Cap. 9,  págs 133 à 150.

** Tradução livre de Pseudo-Sedir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário