sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A Aridez (ou Secura)

                                 A Aridez (ou Secura)**
                                                        Por Paul Sedir

Eis algumas notas rápidas sobre um dos estados d’alma mais doloroso reservado aos místicos em sua caminhada.  Eles podem ser úteis uma vez que todo mundo ressente, por intervalos, de apatia e desgosto. 

Disse Jesus: “É de vosso interesse que eu parta...” (João, 16:7). Efetivamente, se nossa natureza ama as doçuras espirituais, é preciso aprender, como disse M. Hamon, a amar o Deus das consolações mais que as consolações de Deus. O que é sensível na vida interior é o regozijo das partes de nosso espírito das quais somos conscientes. Pois, nós só temos consciência daquelas regiões psíquicas que nosso trabalho interior evoluiu. Para crescer, nossa consciência deve entrar na imensidão de nosso inconsciente. Neste ponto, a sensitividade interior não funciona mais. De lá vem a sensação de aridez – mas é preciso saber que  este estado  é  o sinal de  que Deus esta agindo em nós profundamente. Quando sentimos sua ação, é que Ele está operando nas partes externas de nosso espírito. A secura é, portanto, um estado muito invejável e frutuoso.

Quando o dever perde seu charme e a prece seu atrativo, isto vem ou de uma direção particular de Deus ou da constância de nossa tibieza ordinária.

A aridez possui três qualidades:

1. A alma calorosa geme, esmorece, se humilha, e gostaria de abraçar o universo; mas ela permanece impotente.  A alma tíbia não percebe nem mesmo a sua aridez.

2. A alma calorosa está em crise. Ela pensa no mal que fez apesar de seus esforços, e no bem que ela não fez. Ela se compara aos seus irmãos, acredita estar atrasada e queima no imenso desejo de melhorar. A alma tíbia encontra-se bem como está e julga-se melhor que as outras.

3. A alma calorosa não negligencia, malgrado tudo, nenhum dever.  Ela se esforça energeticamente para cumprir tudo, apesar da dor e da insipidez.   A alma tíbia negligencia, e desbarata-se de seus deveres.

Como se comportar neste estado:

1. Se ele provém de nossa tibieza, é necessário sair, custe o que custar, por um esforço sistemático e obstinado;

2. Se ele provém de uma provação, “dê os ombros” e resigne-se com calma; nossa sede de evoluir será a melhor das preces.

3. Por fim, e de uma maneira geral, cuide-se para não cair da secura para a tibieza. O que seria um recuo muito triste e um estado bem perigoso.

Entre as causas de nossa aridez podemos observar duas principais:

Primeiro, a tibieza habitual, engendrada pelas paixões, a curiosidade, os desejos vãos, a negligência. Depois a falta de atenção aos minutos de fervor que a bondade de Deus nos diligencia.

Para prevenir a aridez é preciso:

1. O recolhimento, a manutenção do doce sentimento da presença divina;
2. As pequenas mortificações morais: estes são os grãos de sal sobre o fogo agonizante de nosso fervor.

Para lutar contra a aridez empregue os seguintes procedimentos:

1. Não deixe entrar em si o desencorajamento. Deus tem todos os direitos sobre nós. Temos muito a pagar.  Temos uma obra magnífica a cumprir: ajudar o Cristo em seu trabalho;

2. Recusar os pensamentos de dúvida e de inquietude. Deus é bom e todos os Santos sofreram terríveis securas. Nós seremos todos salvos.

Como se conduzir na aridez:

1. Não omitir nenhuma de nossas preces habituais, embora estejam insípidas;

2.  Guarde, com uma vontade forte, a convicção que Jésus está conosco e ao nosso lado.
As vantagens da aridez são:

De ser uma excelente escola de sólidas virtudes; de reduzir o amor próprio, de aumentar a humildade diante de Deus e diante dos homens; de fazer crescer o amor de Deus, pois ao purificar nossos sentimentos, eles os incitam, nos exaltam acima de toda dor humana.

*         *          *
Eis de perto todos os pontos suscetíveis de servir de tema às meditações daqueles que estão bastante familiarizados com o trabalho psíquico para poder aprofundar e organizar todas estas informações.

Tomemos em cada dia de provação uma destas frases, e pensemos nela nos minutos de folga entre nossas ocupações diárias. Estas lembranças ininterruptas acabarão por si mesmo em fazer retornar o vigor à nossa vontade e de ser o élan do nosso coração.

Eis alguns detalhes suplementares que ajudarão a determinar o estado de aridez. Quando conhecemos nosso mal podemos melhor suportá-lo, pelo menos para os caracteres reflexivos e viris.

A secura é uma prova interior que Deus nos envia ou permite como faz com as provas exteriores: as doenças, os  ataques demoníacos visíveis, etc.

Examinando as relações dos místicos encontramos doze variedades de aflições interiores:

1. As tentações;
2. A impotência aparente de cumprir um ato benfeitor qualquer;
3. A visão aguda de nosso estado de corrupção moral;
4. A sensação aguda de estar só entre os homens;
5.  O aborrecimento e uma imensa tristeza;
6. A sede de Deus;
7. O terror de ser abandonado por Deus e que Ele não nos ajude mais;
8. A certeza de estar condenado;
9. Do ressentimento contra Deus;
10. Dos escrúpulos despropositados e desatinados;
11. Das distrações invencíveis;
12. A aridez ou secura.

No momento, nos interessa, as aflições nos 2, 3, 5, e talvez 11 e 12, se permitimos de empregar para o místico este estilo de contabilidade.

Eis para cada um destes cinco artigos algumas máximas que contemplaremos (e não meditaremos) sistematicamente, em todos os momentos livres do dia, sem preocupação com os possíveis resultados desta contemplação.

·         Contra a impotência ao bem: somente possuímos verdadeira e divinamente as virtudes na medida em  que ignoramos que as possuímos. – “Console-te; tu não me procurarias, se tu não já tivesses me encontrado”, disse J. C. pela pluma de Pascal.

·         Contra o desgosto fatigado de nós-mesmos. É, ao contrário, uma boa coisa ser severo para consigo.

·         Contra a impotência ao ato benfeitor: abandonar-se a Deus, deve ser nosso desejo sincero. É então que isto que nós acreditamos ser o bem seria atemporal. Alhures, esta própria espera é, em certo plano, um trabalho ativo.

·         Contra as distrações: evitar os sonhos agitados e as palavras vãs. 

·         Contra a aridez, a mais comum de todas estas provas: Na aridez, não chegamos, apesar de todos os esforços, a nenhum fervor; e este ainda é seguido de desgosto. Para prevenir este estado, é necessário manter a vida ocupada, preparar-se para a prece pela meditação, onde encontramos um pouco da relação do particular com o geral. Mas mesmo assim não se estafar, a fim de evitar o esgotamento nervoso.

Santa Teresa dizia que há vantagem em mudar, de vez em quando, a hora da oração e, às vezes, dividir a oração em vários momentos, com meia ou uma hora de intervalo: por exemplo, cada vez que o relógio bater (Vide VI). Ainda, podemos anotar um belo pensamento vindo durante esta oração tão insípida. A vantagem desta provação é de nos fazer descer à humildade. 

O melhor remédio é “de se apresentar diante de Deus como um pequeno pobre, pedindo-lhe muito humildemente uma esmola” (Santo Philippe de Néri, Vide, Bolland, 26 maio). É preciso, e isto para todos os nossos sofrimentos, em pedir a Deus o alívio e, ao mesmo tempo, estar feliz se Deus não nos concedê-lo.  Esta regra é muito importante. Por fim, para concluir, é bem verdade que todos estes sofrimentos da alma, sejam quais forem sua origem e sua natureza, nos proporcionam os maiores avanços.

  ** Extraído e traduzido por Pseudo-Sedir da revista Psyché , Paris, 1913
             

Um comentário:

  1. Oh Senhor das luzes , que flecha certeira para mim...amei ameiiiiii ..acertou o alvo do meu coração em momento oportuno....obrigada .. belíssimo ensinamento 🤗🤗🤗

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