quinta-feira, 23 de abril de 2020

EXPLICAÇÕES GERAIS SOBRE O MARTINISMO



            EXPLICAÇÕES GERAIS SOBRE O MARTINISMO




Quem é e como surgiu a Antiga Ordem Martinista - Martinismo


 Qual é a base da Iniciação Martinista? Um ritual da Ordem nos diz nos seguintes termos:

“Encerra a filosofia de nosso Venerável Mestre, baseada especialmente nas teorias dos Egípcios, sintetizadas por Pitágoras e sua Escola. Contém, em seu simbolismo, a Chave que abre o mundo dos Espíritos e que não está cerrado; segredo inefável, incomunicável e unicamente compreensível ao verdadeiro Adepto. Este trabalho não profana a santidade do Véu de Ísis por imprudentes revelações. Aquele que é digno e está versado na História do Hermetismo, em suas doutrinas e em seus ritos, em suas cerimônias e hieróglifos, poderá penetrar na secreta, porém real, significação do pequeno número de símbolos oferecidos à meditação do Homem de Desejo”.

O Martinismo é uma Escola de alto Hermetismo que se descobre a muito pouca gente, preferindo a qualidade à quantidade, como qualquer associação que não deseja ter ação política e que, se pensa proceder socialmente, prefere elevar a multidão à seleção, no lugar de descer da seleção até a multidão. 

A Iniciação Martinista é o resultado de um ensinamento, porém há em seu desenvolvimento uma parte imensa de formação pessoal. A Iniciação é gradual, conforme as capacidades daquele que deve seguir as fases de seu ensinamento antes de chegar aos graus superiores. Este é o sentimento que podemos extrair do célebre discurso pronunciado por Stanislas de Guaita e que encontramos no Umbral do Mistério:

“Fizemos-te iniciar: o papel dos iniciadores deve limitar-se aqui. Se chegares por ti mesmo à inteligência dos Arcanos merecerás o título de Adepto; mas, vê bem; seria em vão que os mais sábios Mestres quisessem revelar-te as supremas fórmulas da Ciência e do Poder mágico. A Verdade Oculta não poderá ser transmitida em um discurso: cada um deve evocá-la, criá-la e desenvolvê-la em si. És Inciciado: aquele que outros colocaram no caminho; esforça-te em chegar a Adepto, aquele que conquista a Ciência por si mesmo; em uma palavra: o Filho de suas obras.”

A Iniciação Martinista compreendida desta maneira, não pode transcorrer sem provas; porém estas não tem nada de comum com as de outras instituições iniciáticas. O discurso de Stanislas de Guaita, que não podemos aqui transcrever inteiramente, merece estudo e reflexão. Ele desenvolve esta doutrina: A Iniciação é, certamente, o resultado de um ensino, porém há em seu transcurso uma imensa parte de formação pessoal. Qualquer poder concedido pela Natureza ou pela Sociedade, para ser útil, deve desenvolver e adaptar à sua função aquele que deverá beneficiar-se com ele.

Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista: é a afinidade entre espíritos unidos por um mesmo grau em suas possibilidades de compreensão e de adaptação; unidos por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências, do qual se segue a constatação obrigatória de que o Martinismo está composto, exclusivamente, por seres isolados, solitários, que meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.

Cada um destes seres tem a obrigação, uma vez adquirido o conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão alcançada, para aqueles que possam compreender e participar daquilo que ele crê constituir a verdade em sua vida espiritual. É aqui, então, que intervém a Missão de Serviço do Martinismo, é somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.

Os assuntos de dinheiro são quase desconhecidos na Ordem; as quotas, “o tronco da viúva”, os direitos pelos diplomas não existem e os graus são conferidos sempre ao mérito e não podem nunca ser objeto de tráfico.

A filiação à Ordem Martinista é buscada, sobretudo, pela instrução que leva bastante longe e que compreende o estudo aprofundado das ciências simbólicas e herméticas.

Por outro lado, a Ordem abre suas portas tanto aos homens como às mulheres; não exige de seus membros juramento nenhum de obediência passiva, nem tampouco lhes impõe nenhum dogma; acolhe sem distinção a todos os que sentem em seus corações o amor ao próximo e que desejem trabalhar pelo bem comum.

Dentro da Ordem é de rigor possuir a maior tolerância, ou melhor, o espírito de compreensão mais acentuado. No que diz respeito à ajuda mútua, ela constitui também uma das características essenciais do Martinismo, cujos adeptos se esforçam, segundo suas possibilidades, em ajudar aos demais seres humanos, sejam ou não iniciados, pertençam ou não a nossa Ordem.

A Ordem Martinista compreende três graus: Associado, Iniciado e Superior Incógnito, conferidos de acordo com rituais que procuram dar a quem os recebe uma ajuda poderosa.

Já dissemos que o Martinismo é uma cavalaria, ou por outra, é uma tendência ou corrente cavalheiresca que persegue o aperfeiçoamento individual e coletivo. É necessário, portanto, que o Martinismo em todas as terras esteja formado por servidores perfeitos e sucessores dos verdadeiros Mestres do movimento; os Superiores Incógnitos, dos quais um dos primeiros a ser conhecido pelo mundo profano foi Louis Claude de Saint-Martin, que ainda pode ser conhecido como o Filósofo Desconhecido.



      PROGRAMA DE ESTUDO SUGERIDO POR PAPUS PARA O MARTINISMO:

I

1. História das raças humanas, tradições, etc.
2. Teoria geral e Filosofia (Saint-Martin, Saint-Yves d'Alveydre, etc.).
3. Uma língua sacra: o hebreu.
4. Psicurgia (primeiros elementos práticos).


II

1. História e simbolismo (Sociedades secretas e Maçonaria).
2. A Cabala.
3. Uma língua sacra: o sânscrito.
4. A Magia e as adaptações (Hipnotismo, Magnetismo, Orações).


III

1. História da Alquimia e da Rosa-cruz (Martinismo).
2. As religiões do Oriente: Budismo, Bramanismo e Taoísmo.
3. Uma língua sacra: o egípcio.
4. O Espiritismo: sua transformação desde a Antigüidade; sua adaptação.

IV

1. Os Cultos e seu esoterismo em todas as religiões.
2. A antiga iniciação no Egito; a Pirâmide e o Templo.
3. Hermetismo; a Alquimia; a Astrologia; o Arqueômetro.
4. A Maçonaria prática: constituição de um rito; as diversas adaptações sociais.

FONTE: 
O ABC do Ocultismo de Papus
Rituel dressé par Teder.






domingo, 12 de abril de 2020

O ELOGIO DO INCOERENTISMO



                              O ELOGIO DO INCOERENTISMO


                                                                                              “Oh! Revesti-vos de um vestido bizarro e alegre,
Bebei álcool e olhai nos olhos de vossas belas mulheres
Bendito seja o Nosso Senhor do Trindente, que encontrou
Que a via da salvação passava por ali!”
                   Mattavilasaprahasana 


A Iniciação é incoerentismo, ciência das incoerências. Enquanto que ao querermos dar coerência ao mundo, nós o complexificamos pelo conceito, ao reconhecermos a incoerência, ou a não-coerência do mundo,nós simplificamo-lo. Ora, a Iniciação é Simplificação, pois a percepção pura unifica, enquanto que o conceito multiplica e separa.

Em toda a conquista do Ser, existe um caminho pedagógico, evolutivo, religioso (que religa), periférico, e o caminho iniciático, ascético, por ruptura, uma devolução que provoca a experiência directa do Absoluto.

A entidade que nasce da ascese está necessariamente separada do mundo, o mundo consome-se na experiência do real, pois a incondicionalidade do esforço (e não o próprio esforço) faz reconhecer o mundo por aquilo que ele é, reflexo, sonho enebriado. Mas esta entidade, nascida da ascese, separada da persona, permanece separada do Ser até à dissolução do corpo físico. Ela é, de alguma maneira, a última máscara, o último reflexo, o reflexo mais puro, mas sempre um reflexo, reflexo suficientemente puro contudo para autorizar a experiência da imortalidade nesta vida, neste corpo.


A Tradição faz por vezes referência à inversão dos candelabros (por exemplo em Gustav Meyrink que foi Grão Mestre dos Irmãos Iniciados da Ásia), imagem simbólica próxima da do Enforcado do Tarot. Há duas inversões dos candelabros. Falando literariamente, eu poderei dizer que a primeira, a inversão (ou rotação) lateral corresponde aos mistérios menores, e que a segunda, a inversão (ou rotação) vertical corresponde aos mistérios maiores. A primeira inversão permite rodar para o mundo paradoxal e apreender o jogo ou a relatividade do mundo fenomenal. A segunda inversão dos candelabros constitui a apreensão do Real pelo adepto, ao mesmo tempo que a apreensão do adepto pelo Real.

É buscando a incoerência da coerência que a primeira inversão dos candelabros se pode produzir, é percebendo a coerência magnífica e divina da incoerência que a segunda inversão dos candelabros se manifesta.


Trecho do livro: “ O louco de Shakti, imortalidade, par e alquimia, Lisboa, Hugim, 1998, págs 17 e 18 (edição bilíngüe)” de Remi Boyer