A QUESTÃO FEMININA NA
INICIAÇÃO
Por Sebastião Caracciolo**
Todas as Tradições nos
ensinam que o acaso “não existe”, que a manifestação seja somente unida e
participante de um único plano providencial e geral, e diferenciado em partes
desiguais e que se harmonizam entre seus dias. Que as duas partes sejam complementares
não significa que sejam iguais nem intercambiais, significa que no drama de sua
existência uma parte é necessária à outra. A desigualdade entre as partes
depende dos seus diversos modos de ser. A lei da manifestação é a diversidade
e, portanto, duas partes não podem ser iguais sem que uma elimine a outra.
Assim a existência de uma
“criatura” é determinada pelo próprio modo de ser e a diferença física vai de
acordo com a correspondente de uma diferença espiritual. Não se é homem ou
mulher fisicamente se não se o é espiritualmente. O sexo não é outro que uma consequência
de uma variação inicial. No momento da separação algumas qualificações
essenciais foram atribuídas ao macho e outras a fêmea, determinando dois
diversos modos de ser e duas diversas funções. O macho e a fêmea,
distanciando-se do Centro Divino, se tornaram involuídos na materialidade
adquirindo características, que vez por outra, foram apensadas e tornaram-se
grosseiras e distorcidas qualificações de que foram dotados na origem. Além
disso, o macho e a fêmea são postos em contínua oposição entre si e em
recíproca procura de uma integração que até hoje se expressa somente na
prevaricação de um ser sobre o outro, é a fonte de confusão entre os dois. Isto
tem acentuado sempre mais os sinais da “queda” até os nossos dias, onde não são
nem macho nem fêmea, mas híbridos, quebrados, despedaçados, porque são
necessários num e outro ser para recompor a essência específica, restituindo
nos dois seres as suas especificas qualificações e funções originais, que
podemos indicar, sinteticamente dizer “virilidade espiritual” para o macho e
“espiritualidade feminina” para a fêmea.
O despertar de tais qualificações, segundo a Tradição, pode vir seguindo duas vias que, separadas ou unidas, deverão ser diversas para cada uma das duas. É necessário que na reconstituição harmônica e ordenada de cada um dos dois seres, que sigam uma “uma via iniciática” semelhante, mas não iguais, voltando a exaltar no macho todos os valores perfeitamente machos e na fêmea todos os valores perfeitamente fêmeos, para que ao término possamos reconduzi-los ao ponto de origem onde os Dois formarão Um.
Vale a pena recordar que,
segundo a tradição, o rito consiste em uma ação sacrificial na qual intervém
forças do alto e forças de baixo, ocultas e sutis, voltadas imediatamente à
purificação da personalidade humana.
Havíamos dito que a lei
da manifestação é a diversidade, podemos também afirmar, como [Julius] Evola,
que a diversidade não provoca retorno idêntico, e que as várias partes do todo
retornem promiscuamente unas, mas quer que tais partes sejam sempre mais SI
MESMO exprimindo sempre mais o próprio modo de ser.
Na Tradição helênica,
macho é o uno, isto é, em si mesmo, fêmea é a dualidade, princípio do outro
ser.
Na Tradição hindu macho é
o espírito impassível (purusha), fêmea é prakriti, matriz de toda forma
condicionada.
Na Tradição oriental o
princípio masculino (yang) se refere a “virtude do céu” enquanto o princípio
feminino (yn) se refere a “virtude da terra”.
Na Tradição bíblica, Eva,
como imagem de Narciso, representa a força universal em forma sedutora, Adão,
como Narciso, representa a força do ser seduzido ao desejo de conhecimento.
Através da iniciação as duas forças resultam sublimadas e transmutadas.
(...)
Em matéria iniciática não
se trata de igualdade nem desigualdade entre dois seres, que diante de toda a
manifestação tem cada um os próprios valores e a própria dignidade, se trata de
diversidade e necessidade. (...).
** Caracciolo, Sebastião,
falecido Hierofante do Supremo Conselho Adriático, mantenedor do Rito maçônico de Mizraim-Memphis. Trecho retirado do seu livro " A Ciência
Hermética". Edição e tradução APROMM, págs 45 e 46.