sábado, 4 de dezembro de 2021

DEUS É COM FORMA E SEM FORMA


                DEUS É COM FORMA E SEM FORMA

UM DIA de inverno certo discípulo, pai de família, que era professor de colégio, foi ver Bhagavân Sri Ramakrishna estava sentado na varanda sul de sua habi­tação, e achava-se sorrindo. Depois de uma curta conversação per­guntou: Preferis meditar em Deus com forma ou sem forma?

Titubeou o discípulo e respondeu: Prefiro meditar em Deus como existência sem forma antes que como Existência com forma, O Bhagavân replicou: Isso é bom. Não mal em considerá-Lo deste ou de outro ponto de vista. Sim, é mui justo considerá-LO como Existência sem forma. Porém, não partais da ideia de que só esse é o único caminho certo e que tudo o mais é falso. A meditação n' Ele como 

Existência com forma é igualmente correta. Não obstante, deveis manter-vos em vossa concepção particular de Deus até que O hajais realizado e visto.

O discípulo perguntou: Bhagavân, podemos crer que Deus é com forma, porém seguramente não tem a de nenhuma das ima­gens de barro que são adoradas?

 Sri Ramakrishna replicou: Meu querido senhor, por que dizeis imagens de barro? A imagem da Existência Divina é feita de espí­rito. O discípulo não pôde compreender e significado disto e perguntou; Sem embargo, não deveria ser um dever para nós fazer entender aos que adoram imagens que Deus não é igual à imagem e que, durante a adoração, deveriam pensar, em Deus mesmo e não na imagem feita de argila? O Bhagavân disse: O Senhor do universo é quem ensina a humanidade. Aquele que fez tantas coisas, fará seguramente algo para as levar à luz. O Senhor reside no templo do corpo humano, Ele conhece os nossos mais íntimos pensamentos. Se há mal em adorar imagens, não conhecerá que toda adoração está dirigida a Ele? Com gosto a aceitará sabendo que é para Ele. Por que, pois, vos preocupais com coisas que estão além do vosso alcance?

Procurai realizar Deus e amá-LO. Este é vosso primeiro dever.


Falais de imagens feitas de argila. Bem, com frequência há a necessidade de adorar essas imagens e símbolos. No Vedanta se diz que a Absoluta Existência-lnteligência penetra o universo e se manifesta através de todas as formas. Que mal há em adorar ao Absoluto por meio das imagens e símbolos? Vemos meninas pe­quenas com suas bonecas; quanto tempo brincam com elas? En­quanto não se casam. Depois de casadas, põem de lado aquelas bonecas.

Da mesma maneira, necessitamos de imagens e símbolos en­quanto não tivermos realizado Deus em Sua verdadeira forma. É Deus mesmo quem deu essas diversas formas de adoração. O Mestre do universo fez tudo isto adaptado aos diferentes homens em seus distintos graus de conhecimento e crescimento espiritual. Uma mãe prepara o alimento para seu filho de modo que cada um tenha o que é melhor para si.


Suponde uma mãe que tenha cinco filhos e um só pescado para todos. Fará diferentes pratos com ele para poder dar a cada qual o que lhe mais agrade — a um rico polão, a outro, sopa, a um terceiro frito, e assim sucessivamente, de acordo exatamente com o poder de digestão de cada um. Compreendeis agora?

O discípulo replicou: Sim, Bhagavân, agora o compreendo.


 ***   Texto retirado da Revista “O Pensamento” N. 980/981, Maio/Junho de 1990.