domingo, 15 de setembro de 2013

MARTINISMO, CURA E CARIDADE

 Martinismo, Cura e Caridade**
                 Pseudo-Sedir

“Todos, podeis vos curar uns aos outros pelo magnetismo. Mas para ser ouvido, é preciso não ter rancor contra ninguém e amar ao próximo como a si mesmo”
               M. Philippe de Lyon


O Martinismo (1), como todas as Ordens Iniciáticas Tradicionais, não ignorou, ao longo de sua história, a importância da cura mística. Segundo os ensinamentos de nossos Mestres do Passado há, basicamente, três espécies de origens para as infinitas doenças: as de origem física, astral, e as espirituais. Esta classificação esta baseada na idéia de que cada um dos nossos atos, independente de sua natureza e motivação, acarreta uma imediata conseqüência no mesmo plano em que este ato foi realizado.

As doenças físicas são fruto de nossa ignorância e desrespeito aos nossos limites biológicos, aos excessos de comida, bebida e paixões, ou seja, toda vez que o homem abusar de suas faculdades instintivas e de seu corpo físico, pagará um preço em forma de moléstia. Sendo de origem física, estas doenças são tratadas por meios físicos, como, por exemplo, a alopatia, homeopatia e magnetismo.

As doenças astrais são refletidas em nosso corpo astral (cujo alcance e efeito é bem mais danoso do que o efeito no físico), e são originárias de nossas iras, ódios, culpas, paixões descontroladas, inveja, vingança, etc., podendo ainda ser o resultado de um “envultamento” e/ou auto-sugestão. As doenças provenientes do astral são bem mais complexas em seu tratamento, e os métodos recomendados para a cura são aqueles com capacidade para atingir o corpo psíquico ou astral, elevando as vibrações do enfermo, como por exemplo, a homeopatia, os procedimentos mágicos, o magnetismo e os florais.

As doenças espirituais, ou doenças do Espírito são as grandes desconhecidas de nossa mente cartesiana e de nossos médicos acadêmicos. Constituem nosso Carma individual, cuja origem, geralmente, nada sabemos durante nossa vida física. As doenças provenientes do plano espiritual, geralmente, são tidas como incuráveis ou crônicas. Os métodos espirituais recomendados para estas doenças são a Prece e as Operações Teúrgicas, únicas com capacidade para mudar o Destino Cármico do doente, mas, neste caso, há necessidade da intervenção dos Iniciados e dos “Verdadeiros Homens de Deus”.

Podemos agora compreender as razões da ênfase dada na prática da Cura, em especial pela Oração e Teurgia, por algumas Tradições Iniciáticas ao longo dos tempos: Enquanto para as curas com procedimentos físicos (alopatia, homeopatia, acupuntura, etc) basta o curador dominar bem sua técnica, para a cura por métodos vibracionais e espirituais (magnetismo, Orações, teurgia, etc) é preciso, juntamente com a técnica, ocorrer uma prévia e profunda transformação interior do terapeuta, para que suas preces e operações mágicas possam receber a assistência do Invisível e, efetivamente, serem os canais condutores da Graça Divina, única forma de redirecionar o carma individual do paciente.

Nesta senda o esforço de aliviar o próximo nos obriga a uma mudança radical na estrutura de nosso Ser, tanto na parte externa, a personalidade, quanto na interna, o Ser Real. É o Ore e Labore em seu sentido pleno. A dedicação a este tipo de cura é similar ao trabalho em um laboratório alquímico, onde a operação se realiza na mesma intensidade de nossos esforços de mudança e re-alinhamento interior, havendo uma simbiose dialética entre os resultados materiais e espirituais da operação executada. Esta purificação de nosso Ser, pelo trabalho com a cura espiritual, tem como conseqüência direta a Maestria na Via da Caridade e do Sacrifício consciente pelo próximo.

Mas este caminho, pelo Serviço teurgico-terapêutico ao próximo, como todos os caminhos espirituais-Iniciáticos, não é isento de riscos, pois ao agir pela cura do próximo pode haver uma transferência das penas e dores dos doentes para nós, como ajuda para aliviar seu Carma e pagamento pela cura solicitada. Neste caso, ou, entramos conscientemente na Via do Sacrifício Voluntário (2) em benefício do nosso semelhante, ou nos revoltamos, e perdemos a oportunidade de dar um grande salto em nossa Evolução pessoal (3).

Mesmo na via da Prece, individual ou coletiva, também podemos atrair sérios problemas, de todo tipo e ordem, caso esqueçamos das Orações prometidas e os compromissos assumidos voluntariamente. M. Philippe afirma categoricamente: "É coisa grave prometer a alguém que se orará por ele. Fica-se ligado, é preciso fazê-lo, até tirando do próprio sono se for preciso”.

Quando nos engajamos na cura de alguém, estamos imediatamente ligados moralmente e animicamente ao doente, às testemunhas da promessa, tanto as visíveis quanto as invisíveis, incluindo nosso Anjo protetor e o da pessoa necessitada.

Deste modo é melhor MEDITAR BASTANTE antes de assumir qualquer tipo de compromisso com Grupos de Orações, práticas teurgicas ou mesmo com simples pedidos individuais de cura, pois, apesar da boa vontade, podemos simplesmente, aumentar, involuntariamente, nosso Carma pessoal. Entretanto, fecundos frutos colherão os que tiverem Fé em nossos Mestres e Caridade em seu Ser para perseverar na Via da cura espiritual.


Notas:

1) “Numa de suas obras, Papus, diz que algumas das Lojas Martinistas chamadas místicas, tem o costume de se reunir para pedir a cura dos doentes graves...” (Sevananda: O Mestre Philippe de Lyon, V.2, pág 202). Este nosso artigo está baseado nos ensinamentos de: Bricaud, Papus, Paul Sedir, M. Philippe e Jehel/Sevanada Swami.

2) Um bom exemplo deste sacrifício voluntário é relatado por Philippe Encausses: “(...)Em outras situações – mais raras- Ele [Papus] vai para velha igreja de Montmatrre (...) e pede simplesmente que, para facilitar a cura física ou espiritual desejada, provas pessoais lhe sejam enviadas, a ele Gerard Encausse-Papus, como compensação pela Graça concedida a outros....E posso garantir que as provas tanto físicas quanto financeiras ou morais suportadas foram numerosas” (Philippe Encausse: Papus, Lê Balzac de L´Occultisme, p. 97)

3) Segundo Paul Sedir, se alguém cuida de um doente impertinente, impaciente ou repugnante e impacienta-se, indispõe-se , despreza ou julga este doente, mesmo que não o manifeste, já se coloca no Caminho que leva à mesma doença. O mesmo pode ocorrer com aqueles que julgam ou desprezam qualquer doente. O que não significa que fatalmente a pessoa terá esta doença!

** Retirado do Boletim N. 3, ano II, da OMS.

Bibliografia Martinista recomendada sobre tema:

AOR: “Medicina Oculta”, SP, edt F.V. Lorenz, 1998


             “Magnetismo”, SP, edt F.V. Lorenz, 1997

Philippe Encausse: Papus, Lê Balzac de L´Occultisme, Paris, edt Belfond, 1979

Sedir: “La médecine occulte” , Paris, Beaudelot, 1910.

           “ Conditions de la Guerrison mystique”, disponível no site “textes mystiques”

           : “Lês forces mystiques et la conduite de la vie” , Paris, Lês Amitiés Spirituelles, 1977

           : “A Doença”, extraído e traduzido de uma palestra do autor.

           : “La Priere”, Paris, Lês Amitiés Spirituelles, 1987
Sevananda/Philippe Encausse: O Mestre Philippe de Lyon, V.2, edições Alba Lucis, 1970



terça-feira, 7 de maio de 2013

EGRÉGORAS, UMA BREVE INTRODUÇÃO


             Egrégoras, uma breve introdução


                                                                             Por Pseudo-Sedir


“Cada coletivo humano, do menor: família, pequenas associações, aos maiores: povo ou agrupamentos de povos, possuem sua Egrégora, existe mesmo a Egrégora de uma época determinada que, em certo grau, torna-se uma Egrégora histórica...”
 Serge Marcoutoune

Introdução:

Podemos conceituar as Egrégoras como entidades autônomas, formadas pela persistência e intensidade das correntes mentais emitidas por comunidade, associação ou fraternidade, independentes de suas intenções ou finalidades. O vocábulo “egrégoro”, de origem grega, significa: aquele que vigia, que cuida, ou seja, um protetor e mantenedor de algum tipo de grupo ou coletividade (1).

Nascimento da Egrégora:

Para entendermos melhor a questão das Egrégoras devemos sempre ter em mente o caráter de movimento vibratório constante e contínuo do plano astral, onde estes seres atuam e são formados. É a condição plástica e maleável do plano astral que permite a formação, vitalização e configuração das formas exteriores das Egrégoras.

O plano astral é povoado por inúmeras criaturas, das mais variadas espécies e procedências, entre estas encontramos as chamadas “formas-pensamentos” ou “idéias-forças”, que nada mais são que os resultados dos pensamentos, desejos e emoções dos seres humanos encarnados no planeta Terra.

As  “idéias-forças” possuem cores e formas, variando segundo a natureza e a intenção do seu emitente. Inicialmente, estas formas ficam presas ao seu emissor e podem arrastá-lo por uma série de choques de natureza emocional ou mesmo kármica;  Com o tempo estas formas desprendem de seu emissor, e tornam-se criaturas vivas e autônomas, mas geralmente de duração efêmera.

Este mesmo processo ocorre quando um determinado grupo de pessoas está reunido em torno de uma idéia ou doutrina, gerando um infinito número de pequenos seres astrais que, por possuírem afinidades entre si, unem-se formando uma unidade coletiva ou um grande ser astral, dando nascimento ao que chamamos uma Egrégora, representada individualmente por  seu gênio (2), que a defenderá e  guiará enquanto sua finalidade primeira for mantida e seguida pelos membros do grupo.

A Egrégora é um ser tipicamente astral, pois seu centro e seu eixo estão situados neste plano, embora a força para sua criação seja externa e necessite de uma efetiva ligação com o mundo material e físico para a manutenção de uma forma estável. No astral, estes seres enormes, refletem as diferentes cores das múltiplas vibrações disponíveis com a força da emoção e da paixão astral correspondente, concedendo-lhe, segundo Serge Marcoutoune, uma imagem muito curiosa.

Uma Egrégora pode ser classificada como: morna, espiritualizada, negativa e maléfica, conforme os objetivos e intenções dos membros do grupo formador e mantenedor de sua vitalidade astral.

A Egrégora é alimentada pelas orações, rituais, mantras e ladainhas de seu grupo formador. É desta maneira que nascem os deuses protetores dos povos e nações. E é a qualidade e finalidade destas orações e rituais o elemento determinante do tipo de Egrégora formada. Isto explica o segredo de certos santuários de curas e milagres.

O grande perigo é quando uma Egrégora negativa torna-se autônoma ou é abandonada com o fechamento do grupo ou religião originária, ganhando, desta forma, uma vida independente que poderá torná-la um verdadeiro demônio (3) para vampirizar e tiranizar seus crentes, na busca insaciável por matéria astral para sua perpetuação como entidade livre, cuja existência, está condicionada na manutenção de um ponto de apoio no plano físico. Aqui entendemos a necessidade e a exigência  de sangue por parte de certas “entidades” ou “seres” em determinadas religiões e seitas (4).

Entretanto, quando a finalidade do grupo é de ordem espiritual autentica, esta Egrégora pode ser animada e vitalizada, também, por um Ser superior ou Gênio que passará a orientar e auxiliar este grupo. Esta situação ocorre quando o ser-eixo do grupo é uma pessoa realmente dedicada e eficaz em uma destas modalidades:

- pelo poder anímico do entusiasmo e da dedicação até o heroísmo e a morte, se preciso for (perigo: fanatismo);
- ou pelo poder mental do conhecimento, do discernimento e da eficiência intelectual, etc. (perigo: orgulho, personalismo);
- ou pelo poder psíquico (perigo: unilateralidade)
- ou pelo poder da entrega, apoiada: ou na prece e na fé; ou numa confiança sem complicações (perigo: dúvida e depressão) (5)

Outra condição importante é a postura dos demais membros da Loja, grupo ou Fraternidade que deve estar pautada na amizade, fé, harmonia, com ânimos desprovidos de conflitos, rixas, ódios e conspirações de qualquer tipo ou natureza.

Nas condições descritas acima a Egrégora proporciona ao representante desta Coletividade, todos os avisos, medidas preventivas, defensivas e as mais diversas informações para a preservação do trabalho do grupo. Mas como lembra Sevananda Swami, isto exige alguns sacrifícios pessoais por parte do Ser-eixo, que vão desde os pequenos sofrimentos físicos para resgatar os erros e defeitos dos membros do grupo até a eliminação destes de seu seio.

Há ainda as chamadas “Egrégoras descedentes”, fruto direto da intervenção de um Mestre, Anjo ou outro Ser espiritual que cria uma “Entidade” para apoiar um determinado grupo por ele protegido e escolhido para atuar em sua Via de ação. Neste caso, esta Egrégora é o canal pelo qual descerá a Graça Divina para este grupo ou coletividade.

Por fim, há as Egrégoras das Cadeias Iniciáticas e das Grandes Religiões que servem á Obra sacrificial de expiação do Filho de Deus para salvar a humanidade. Estas não são controladas por gênios ou qualquer tipo de Mestre, mas por Seres Reintegrados e pela Vontade divina. Estas Egrégoras servem de apoio, inspiração e emanação de força e Graça para as demais egrégoras espiritualistas ou de interesse dos planos cósmicos Superiores.

Morte da Egrégora:
           
Uma Egrégora pode ser dissolvida nas seguintes hipóteses:

a) Quando o grupo termina, e devido à fraca atuação de suas orações ou rituais, é dissolvida em um tempo relativamente curto;
b) Quando atinge o objetivo para qual foi criada.                                                   
c) Quando uma Egrégora é absolvida por outra de uma nova religião mais forte e consistente.   
d) Quando há uma guerra de Egrégora e uma destrói a outra totalmente nesta batalha astral.                                         
e)  Quando é destruída conscientemente pelos Mestres cósmicos.
           

Terminada a missão, conforme uma das razões acima, a egrégora dissolve-se e perde completamente sua individualidade e  o Gênio, quando existe,  retorna aos planos superiores, onde novas tarefas o aguardam.

Conclusão:

Diante do relatado cabe, aos verdadeiros espiritualistas, controlarem seus pensamentos para não criarem monstros astrais de perigosas e incalculáveis conseqüências e aos grupos Iniciáticos praticarem seus rituais dentro do maior espírito de entrega e seriedade possível para propiciar a criação de verdadeiros Anjos da luz, veículos da vontade e aspiração dos seres Regenerados e Reintegrados ao nosso Divino Criador.

Notas:

1. O termo “Egrégoro” é citado originalmente no “Livro de Enoch”,  e foi difundido por Eliphas Levi, mas com uma interpretação equivocada de seu sentido original. Vide: Guenon e Sevananda.

2. Sobre esta interessante questão dos Gênios veja: “Lês genies dês grandes egrégores, dês planetes, dês peuples et dês sephirot” in Marcoutoune, op. cit, cap 5.

3. Reneé Guénon, embora não aceite ou trabalhe com o conceito de egrégora conforme exposto neste estudo, fala da força perniciosa das  chamadas  “influências errantes”, verdadeiros turbilhões que arrastam todos os incautos em sua esfera asfixiante e maléfica.

4. Vide: Cap XXVII (resíduos psíquicos) do “Reino da Quantidade”, onde Guenon explica a permanência de resíduos deletérios em túmulos, civilizações desaparecidas, lugares santos desvirtuados, e suas influências maléficas no presente.

5. Sevananda, op. cit., pág 79

Bibliografia:

* Portela, Hernani: Egrégoras, jornal diário de São Paulo (11/06/1961)
* Sevananda Swami: O Mestre Philippe de Lyon, vol III
* Marcoutoune, Sérgie: La Voie Iniciatique, la pratique de la Vie initiatique, Paris, Librairie Honoré Champion, 1956
* Guénon, René: Initiation et Réalisation Spirituelle, Paris, Edts Traditionnelles.