A Aridez (ou Secura)**
Por Paul Sedir
Eis algumas notas
rápidas sobre um dos estados d’alma mais doloroso reservado aos místicos em sua
caminhada. Eles podem ser úteis uma vez
que todo mundo ressente, por intervalos, de apatia e desgosto.
Disse Jesus: “É de
vosso interesse que eu parta...” (João, 16:7). Efetivamente, se nossa
natureza ama as doçuras espirituais, é preciso aprender, como disse M. Hamon, a
amar o Deus das consolações mais que as consolações de Deus. O que é
sensível na vida interior é o regozijo das partes de nosso espírito das quais
somos conscientes. Pois, nós só temos consciência daquelas regiões psíquicas
que nosso trabalho interior evoluiu. Para crescer, nossa consciência deve
entrar na imensidão de nosso inconsciente. Neste ponto, a sensitividade
interior não funciona mais. De lá vem a sensação de aridez – mas é preciso
saber que este estado é o
sinal de que Deus esta agindo em nós
profundamente. Quando sentimos sua ação, é que Ele está operando nas partes
externas de nosso espírito. A secura é, portanto, um estado muito invejável e
frutuoso.
Quando o dever perde
seu charme e a prece seu atrativo, isto vem ou de uma direção particular de
Deus ou da constância de nossa tibieza ordinária.
A aridez possui
três qualidades:
1. A alma calorosa
geme, esmorece, se humilha, e gostaria de abraçar o universo; mas ela permanece
impotente. A alma tíbia não percebe nem
mesmo a sua aridez.
2. A alma calorosa
está em crise. Ela pensa no mal que fez apesar de seus esforços, e no bem que
ela não fez. Ela se compara aos seus irmãos, acredita estar atrasada e queima
no imenso desejo de melhorar. A alma tíbia encontra-se bem como está e julga-se
melhor que as outras.
3. A alma calorosa
não negligencia, malgrado tudo, nenhum dever.
Ela se esforça energeticamente para cumprir tudo, apesar da dor e da
insipidez. A alma tíbia negligencia, e
desbarata-se de seus deveres.
Como se comportar
neste estado:
1. Se ele provém de
nossa tibieza, é necessário sair, custe o que custar, por um esforço
sistemático e obstinado;
2. Se ele provém de
uma provação, “dê os ombros” e
resigne-se com calma; nossa sede de evoluir será a melhor das preces.
3. Por fim, e de uma
maneira geral, cuide-se para não cair da secura para a tibieza. O que seria um
recuo muito triste e um estado bem perigoso.
Entre as causas de
nossa aridez podemos observar duas principais:
Primeiro, a tibieza
habitual, engendrada pelas paixões, a curiosidade, os desejos vãos, a
negligência. Depois a falta de atenção aos minutos de fervor que a bondade de
Deus nos diligencia.
Para prevenir a
aridez é preciso:
1. O recolhimento, a
manutenção do doce sentimento da presença divina;
2. As pequenas mortificações
morais: estes são os grãos de sal sobre o fogo agonizante de nosso fervor.
Para lutar contra
a aridez empregue os seguintes procedimentos:
1. Não deixe entrar
em si o desencorajamento. Deus tem todos os direitos sobre nós. Temos muito a
pagar. Temos uma obra magnífica a
cumprir: ajudar o Cristo em seu trabalho;
2. Recusar os
pensamentos de dúvida e de inquietude. Deus é bom e todos os Santos sofreram
terríveis securas. Nós seremos todos salvos.
Como se conduzir
na aridez:
1. Não omitir nenhuma
de nossas preces habituais, embora estejam insípidas;
2. Guarde, com uma vontade forte, a convicção
que Jésus está conosco e ao nosso lado.
As vantagens da
aridez são:
De ser uma excelente
escola de sólidas virtudes; de reduzir o amor próprio, de aumentar a humildade
diante de Deus e diante dos homens; de fazer crescer o amor de Deus, pois ao
purificar nossos sentimentos, eles os incitam, nos exaltam acima de toda dor
humana.
* * *
Eis de perto todos os
pontos suscetíveis de servir de tema às meditações daqueles que estão bastante
familiarizados com o trabalho psíquico para poder aprofundar e organizar todas
estas informações.
Tomemos em cada dia
de provação uma destas frases, e pensemos nela nos minutos de folga entre
nossas ocupações diárias. Estas lembranças ininterruptas acabarão por si mesmo
em fazer retornar o vigor à nossa vontade e de ser o élan do nosso coração.
Eis alguns detalhes
suplementares que ajudarão a determinar o estado de aridez. Quando conhecemos
nosso mal podemos melhor suportá-lo, pelo menos para os caracteres reflexivos e
viris.
A secura é uma prova
interior que Deus nos envia ou permite como faz com as provas exteriores: as
doenças, os ataques demoníacos visíveis,
etc.
Examinando as
relações dos místicos encontramos doze variedades de aflições interiores:
1. As tentações;
2. A impotência
aparente de cumprir um ato benfeitor qualquer;
3. A visão aguda de
nosso estado de corrupção moral;
4. A sensação aguda
de estar só entre os homens;
5. O aborrecimento e uma imensa tristeza;
6. A sede de Deus;
7. O terror de ser
abandonado por Deus e que Ele não nos ajude mais;
8. A certeza de estar
condenado;
9. Do ressentimento
contra Deus;
10. Dos escrúpulos
despropositados e desatinados;
11. Das distrações
invencíveis;
12. A aridez ou
secura.
No momento, nos
interessa, as aflições nos 2, 3, 5, e
talvez 11 e 12, se permitimos de
empregar para o místico este estilo de contabilidade.
Eis para cada um
destes cinco artigos algumas máximas que contemplaremos (e não meditaremos)
sistematicamente, em todos os momentos livres do dia, sem preocupação com os
possíveis resultados desta contemplação.
·
Contra a
impotência ao bem: somente possuímos verdadeira e divinamente as virtudes na
medida em que ignoramos que as
possuímos. – “Console-te; tu não me procurarias, se tu não já tivesses me
encontrado”, disse J. C. pela pluma de Pascal.
·
Contra o desgosto
fatigado de nós-mesmos. É, ao contrário, uma boa coisa ser severo para consigo.
·
Contra a
impotência ao ato benfeitor: abandonar-se a Deus, deve ser nosso desejo
sincero. É então que isto que nós acreditamos ser o bem seria atemporal.
Alhures, esta própria espera é, em certo plano, um trabalho ativo.
·
Contra as
distrações: evitar os sonhos agitados e as palavras vãs.
·
Contra a aridez,
a mais comum de todas estas provas: Na aridez, não chegamos, apesar de todos os
esforços, a nenhum fervor; e este ainda é seguido de desgosto. Para prevenir
este estado, é necessário manter a vida ocupada, preparar-se para a prece pela
meditação, onde encontramos um pouco da relação do particular com o geral. Mas
mesmo assim não se estafar, a fim de evitar o esgotamento nervoso.
Santa Teresa dizia
que há vantagem em mudar, de vez em quando, a hora da oração e, às vezes,
dividir a oração em vários momentos, com meia ou uma hora de intervalo: por
exemplo, cada vez que o relógio bater (Vide VI). Ainda, podemos anotar um belo
pensamento vindo durante esta oração tão insípida. A vantagem desta provação é
de nos fazer descer à humildade.
O melhor remédio é “de
se apresentar diante de Deus como um pequeno pobre, pedindo-lhe muito
humildemente uma esmola” (Santo Philippe de Néri, Vide, Bolland, 26 maio).
É preciso, e isto para todos os nossos sofrimentos, em pedir a Deus o alívio e,
ao mesmo tempo, estar feliz se Deus não nos concedê-lo. Esta regra é muito importante. Por fim, para
concluir, é bem verdade que todos estes sofrimentos da alma, sejam quais forem
sua origem e sua natureza, nos proporcionam os maiores avanços.
** Extraído e traduzido por Pseudo-Sedir da revista Psyché
, Paris, 1913
Oh Senhor das luzes , que flecha certeira para mim...amei ameiiiiii ..acertou o alvo do meu coração em momento oportuno....obrigada .. belíssimo ensinamento 🤗🤗🤗
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