DEUS É COM FORMA E SEM
FORMA
UM DIA de inverno certo
discípulo, pai de família, que era professor de colégio, foi ver Bhagavân Sri
Ramakrishna estava sentado na varanda sul de sua habitação, e achava-se
sorrindo. Depois de uma curta conversação perguntou: Preferis meditar em Deus
com forma ou sem forma?
Titubeou o discípulo e
respondeu: Prefiro meditar em Deus como existência sem forma antes que como
Existência com forma, O Bhagavân replicou: Isso é bom. Não há mal em
considerá-Lo deste ou de outro ponto de vista. Sim, é mui justo considerá-LO
como Existência sem forma. Porém, não partais da ideia de que só esse é o único
caminho certo e que tudo o mais é falso. A meditação n' Ele como
Existência com
forma é igualmente correta. Não obstante, deveis manter-vos em vossa concepção
particular de Deus até que O hajais realizado e visto.
O discípulo perguntou:
Bhagavân, podemos crer que Deus é com forma, porém seguramente não tem a de
nenhuma das imagens de barro que são adoradas?
Sri Ramakrishna replicou:
Meu querido senhor, por que dizeis imagens de barro? A imagem da Existência
Divina é feita de espírito. O discípulo não pôde compreender e significado
disto e perguntou; Sem embargo, não deveria ser um dever para nós fazer
entender aos que adoram imagens que Deus não é igual à imagem e que, durante a
adoração, deveriam pensar, em Deus mesmo e não na imagem feita de argila? O
Bhagavân disse: O Senhor do universo é quem ensina a humanidade. Aquele que fez
tantas coisas, fará seguramente algo para as levar à luz. O Senhor reside no
templo do corpo humano, Ele conhece os nossos mais íntimos pensamentos. Se há
mal em adorar imagens, não conhecerá que toda adoração está dirigida a Ele? Com
gosto a aceitará sabendo que é para Ele. Por que, pois, vos preocupais com
coisas que estão além do vosso alcance?
Procurai realizar Deus e
amá-LO. Este é vosso primeiro dever.
Falais de imagens feitas
de argila. Bem, com frequência há a necessidade de adorar essas imagens e
símbolos. No Vedanta se diz que a Absoluta Existência-lnteligência penetra o
universo e se manifesta através de todas as formas. Que mal há em adorar ao
Absoluto por meio das imagens e símbolos? Vemos meninas pequenas com suas
bonecas; quanto tempo brincam com elas? Enquanto não se casam. Depois de
casadas, põem de lado aquelas bonecas.
Da mesma maneira,
necessitamos de imagens e símbolos enquanto não tivermos realizado Deus em Sua
verdadeira forma. É Deus mesmo quem deu essas diversas formas de adoração. O
Mestre do universo fez tudo isto adaptado aos diferentes homens em seus
distintos graus de conhecimento e crescimento espiritual. Uma mãe prepara o
alimento para seu filho de modo que cada um tenha o que é melhor para si.
Suponde uma mãe que tenha
cinco filhos e um só pescado para todos. Fará diferentes pratos com ele para
poder dar a cada qual o que lhe mais agrade — a um rico polão, a outro, sopa, a
um terceiro frito, e assim sucessivamente, de acordo exatamente com o poder de
digestão de cada um. Compreendeis agora?
O discípulo replicou:
Sim, Bhagavân, agora o compreendo. *** Texto retirado da Revista “O Pensamento” N.
980/981, Maio/Junho de 1990.
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