INICIAÇÃO
MARTINISTA DURANTE A OCUPAÇÃO NAZISTA***
Por: Robert Ambelain
“Aqueles
que se aproximam dos mistérios da Iniciação e aqueles que os ignoram, não
terão, quando de sua estadia no mundo das sombras, o mesmo destino.” (Jamblicus)
“Irmão, irei lhe transmitir a Iniciação
de acordo com nosso Mestre,Louis Claude de Saint Martin, tal como a recebi de
meu Iniciador, o qual, do mesmo modo, a recebeu, da forma que vem sendo transmitida,
desde o próprio Louis Claude de Saint Martin, há mais de 150 anos. Mas, primeiro,
eu vos convido, tal como convido aos meus irmãos aqui presentes, a unir-se a
mim na santificação deste quarto, para que este se torne, na dupla virtude da
Palavra e do Verbo, o Templo Particular (do Latim particularis: Uma pequena parte)
para a celebração desta Iniciação tradicional.”
Dezembro de 1940, a neve cobre Paris.
Neste
anoitecer, quando o pálido Sol se põe num avermelhado horizonte, alguns homens
estão reunidos em um quarto no andar superior de um bloco de apartamentos no
bairro latino. Trata-se de uma velha construção, do séc. XVIII, com uma monumental
escadaria de madeira. Lá fora, nas ruas, quartos, cafés, em toda parte, o
vitorioso Exército Alemão. Também, por toda parte, estão os agentes do Governo
de Vichy. Os temidos policiais, em seu reino, saem à caça das Sociedades
Secretas e dos Iluminados, encerrando as suas atividades e fazendo chover
prisões sobre os fora-da-lei. Mas aqui é um outro mundo. Em uma mesa, coberta com
uma tripla toalha, preta, branca e vermelha, simbolizando os Três Mundos, uma
espada espalha o seu brilho sobre o Evangelho de São João. Por trás, sob a luz
tremeluzente de três velas, dispostas em triângulo, parcialmente encoberta pela
fumaça perfumada, a imprecisa silhueta do Iniciador, com o incensário nas mãos.
Ele traça no espaço, em um gesto seguro, o Sinal misterioso. Mais adiante, queimando
solitária, uma outra vela. Diante da base do seu castiçal, um cordão e uma
máscara.
A
Vela dos Mestres do Passado. No silêncio dos assistentes, em muda introspecção,
a voz grave dá prosseguimento ao ritual, e as palavras do Sacramentário soam claras
e puras, suplicantes, como uma ladainha. Elas estabelecem, através do espaço e
do tempo, a “ponte” que deverá unir os vivos e os mortos. E parece que, de
repente, a sala está povoada por Presenças Invisíveis. “Recebei, Senhor, de
acordo com a promessa do Filósofo Desconhecido, nosso Mestre, a homenagem feita
neste lugar, pelos vossos servos aqui presentes! Que possa esta Luz Misteriosa
iluminar nossos espíritos e nossos corações, como previamente iluminou ao
Trabalho de nossos Mestres! Possa este archote iluminar, com a sua luz
brilhante, os Irmãos reunidos em Vosso nome. Que a presença dele possa indicar
um vivo testemunho de sua União Delineada nos mínimos detalhes da cerimônia conduzida,
em toda a sua magnitude.”
O próprio tempo parece ter parado. Neste
ponto, um dos assistentes posiciona a máscara, símbolo do Silêncio e Discrição,
sobre a face do Iniciando. Um outro a veste com a Capa, símbolo da Prudência. E
um terceiro ata o cordão, o qual remete à “Corrente de Fraternidade”. O Lento
Rito Teúrgico continua. E, após a consagração do novo Irmão e a aposição de seu
Nome Esotérico, as últimas palavras ressoam e a Cerimônia chega ao seu fim.
“Possa você, meu irmão, justificar as palavras do Zohar: Os que possuem a Divina Sabedoria, brilham como faíscas dos Céus, mas
aqueles que a transmitem a outros Homens, vão brilhar como Estrelas, por toda a
Eternidade.” Diante da vela solitária, a imóvel Chama onde os Mestres do
Passado permanecem em vigília constante, viram-se, o Iniciador e o Iniciado: “Irmãos,
eu vos apresento N. “Superior Incógnito” de nossa Ordem e eu lhes peço que o
aceitem entre nós.” Uma extraordinária agonia sufoca os corações de todos os
assistentes.
No
Oratório, onde a fumaça do incenso resseca suas gargantas, onde parece que toda
vida se refugia nestas pequenas chamas, as quais altas e perpendiculares
dançam, dançam, dançam, esta não é a vida que parece ser mais Real. E eles:
Grandes Capas, Máscaras, faixas de seda branca, por trás do brilho fulgurante
das espadas, alguém não acreditaria que eles vêem aquele dos Mortos. Mas, ao
contrário, os mais Vivos são os Mortos da Ordem, os Mestres do passado, todos por
perto. Ao Chamado da Palavra todos vieram. Apesar dos séculos eles
aí estão, leais ao encontro mágico: Henry Kunrath, o autor de “O Anfiteatro
da Eterna Sabedoria”, Seton o prestigioso “cosmopolita”, morto nos instrumentos
de tortura do Eleitor da Baviera, Jacob Boehme, o sapateiro iluminado,
Robert Fludd, com a sua prodigiosa inteligência, morto no calabouço da
Inquisição, Francis Bacon, o qual alguns acreditam que era o Grande
Shakespeare, Martinez de Pasqually, o “mestre” que podia evocar os anjos,
Claude de SaintMartin, o porta-voz do Filósofo Desconhecido, Willermoz, agente leal
de seu mestre Martinez, e todos os outros cujos nomes me escapam e que, sendo
nobres, grandes senhores ou pessoas comuns,sob o longo manto negro do
peregrino, ou peruca coberta de pó, estiveram nos quatro cantos da velha
Europa, durante o libertador séc. XVIII, vivendo para realizar o “Grande
Desígnio” da Rosa+Cruz, o misterioso eco do “Mundo Perdido”.
Agora,
dominando todas estas sombras, um outro se ergue, passando para o Oratório como
uma grande respiração do plano Espiritual, a verdadeira alma das Fraternidades!
Eis que tão misteriosa quanto inspiradora, inumana, mas divina, irreconhecível,
mas iluminadora, aqui passa a sombra de Elias Artista. Quando a noite
finalmente cai, Paris está envolta em um silencioso manto branco. Neva
continuamente e o frio se torna cada vez mais intenso. Nas ruas, nos quartos,
por toda parte o Exército Alemão, vitorioso. E também por toda parte, dúvidas e
vigilância, questionamentos e fechamentos, fechamentos e prisões. Através dos séculos,
em desconhecidas e violentas represálias, os reféns caíram, fuzilados. Em
alguns meses dolorosos, os primeiros comboios partirão dos campos de
concentração para os trabalhos forçados no fronte Leste, donde ninguém
retornará. E, como no ensanguentado período da Idade Média, o terror reina
sobre os Iluminados.
Primeiro
atacam às obediências Maçônicas, formadas por livres-pensadores ou ateus,
unicamente ocupados com politicagem. Em seguida. às obediências espirituais,
finalmente chegando às organizações ditas pára-maçônicas. A opinião pública já
está acostumada. Retoma-se a batalha secular, interrompida por sessenta e nove
anos de liberalismo ideológico. Porque por trás da Maçonaria e suas
organizações aliadas há mais alguma coisa para se buscar. É algo
que querem definitivamente desmontar e para sempre destruir, Heresia, a eterna
inimiga. E, por detrás da Heresia, seu propagador secular, o Ocultismo!
Finalmente! Eis a grande palavra fatal. Ninguém a grita dos telhados, não de
imediato! Mas sobretudo existem seus arquivos, manuscritos, estudos históricos
e doutrinários, os quais serão a vedete no curso das pesquisas. Mas em vão! E é
isto que esta obra tentará demonstrar.
Em
nosso livro, lançado na primavera do difícil ano de 1939 ,referente ao simbolismo
das catedrais Góticas, nós escrevemos estas, inconscientemente, proféticas
linhas: “Se o furacão materialista e negativista tiver sucesso em dominar o
mundo; se os novos bárbaros devastando livrarias e museus, realizarem a
profecia de Henri Heine, se o martelo de Thor destruir totalmente nossas velhas
catedrais e sua maravilhosa mensagem nós ainda acreditamos que a Sabedoria
Essencial estará segura. Uma vez que a tempestade houver passado, em um mundo
que retornou à barbaridade, ainda poderão ser encontrados homens,
suficientemente intuitivos para que possam sentir o mistério do infinito, aos
quais, de forma paciente e devotada, caberá reacender a antiga lâmpada, próxima
ao famoso manto púrpura onde os velhos deuses dormem. E, novamente, através da
Grande Noite do espírito, a chama verde da Oculta Sabedoria irá guiar a
humanidade ao seu Reino maravilhoso, brilhante e radiante, a “Cidade do Sol”
dos filósofos e sábios. Que a Paz, Alegria e Caridade estejam em nossos
corações e nossos lábios, agora e para sempre. Dezembro de 1940: A última frase
do ritual dos “iniciados de Saint Martin” respondeu para nós!
***
Texto recebido da internet, publicado em diversos blogs e sites. Tradutor
desconhecido.
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