segunda-feira, 21 de junho de 2021

“REVELAÇÕES” de MICHEL DE SAINT-MARTIN

                                        “REVELAÇÕES”*

                                Por Michel de Saint-Martin**

A CARIDADE (O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO)

“Crer que nesta Terra possamos ser felizes plenamente enquanto todos aqueles que sofrem não terão cessado de so­frer é dar prova de uma mentalidade bastante singular. Que tenhamos momentos de repouso, está bem. Durante a Grande Guerra, os soldados que voltavam de “lá”, em licença, tinham o direito de rir e ser felizes com esse descanso, mas quan­tos, nesses períodos de trégua, não tinham às vezes terríveis momentos ao pensar “naqueles que permaneciam lá”; é que então o melhor do homem subia à superfície, é que aqueles que estavam no fronte eram capazes, quase todos, de dar a vida para salvar um irmão de armas. Esses compreenderão estas palavras, o verdadeiro poilu da França saberá que isso foi verdadeiro, assim como aqueles que se viram na impossi­bilidade de ir lá, independentemente de sua vontade; não falo daqueles que fizeram de tudo para se esconder, deles só vou dizer uma coisa, é que eles são mornos. E os mornos, o Céu nem sequer olha para eles.”


OS SOLDADOS DO CÉU

“Quando Nosso Senhor, por seu sacrifício, nos resga­tou do Príncipe deste Mundo, do Demônio, se tivéssemos acreditado Nele, como alguns acreditaram, e se tivéssemos seguido Seus ensinamentos, como alguns o fizeram, pratican­do a Caridade e amando ao nosso próximo como a nós mes­mos, seríamos, também nós, homens livres, como se tornaram aqueles que seguiram os preceitos do Mestre.

 

Ora, esses homens livres, que souberam praticar a Ca­ridade para seguir Nosso Senhor, reencontraram, com sua li­berdade, sua pureza de antes da Queda.

 

– Mas então por que eles voltam à Terra? Unicamente por nós? A fim de nos ajudar a pagar nossas dívidas?

 

– Claro, meu amigo, não acabei de lhe dizer que eles seguiram os ensinamentos do Mestre, e Nosso Senhor não disse: “Em verdade, em verdade vos digo, o servo não é maior que seu senhor, nem o apóstolo maior do que aquele que o enviou. Se souberdes estas coisas, sereis felizes desde que as praticardes”? (João 13, 16-17). Então, eles seguiram esse en­sinamento, e eles pedem ao Pai a permissão de voltar a este mundo para nos ajudar.

 Eles – que o poderiam fazer – não vêm se mostrar em sua perfeição, para que os admiremos e os tomemos como exemplo; não, eles fazem como faz o Mestre, como fazem Seus Apóstolos; eles vêm, mas se escondendo, ignorando-se a si mesmos na maior parte do tempo, quase sempre, e tomam para si, para pagá-las, algumas de nossas faltas, de nossas dí­vidas, fazendo para si mesmos, assim, um destino de tudo isso que teria feito parte do nosso. O destino que eles assim com­puseram torna-se o seu próprio destino, para eles, que não tinham nenhum. Eles se colocam novamente no nosso nível e se alinham conosco...”

 

OS SOLDADOS DO CÉU II

“Eu tinha em mim mesmo a mais absoluta certeza de que tudo aquilo que acabara de me ser dito era verdadeiro. Sentia o peso esmagador (a palavra não é demasiado forte) do segredo que aqueles dois homens detinham, e compreendia que eu não devia perguntar nem o nome que portara Aquele de quem falávamos há pouco, nem nada sobre os lugares e fatos que poderiam fornecer uma informação mais precisa. A possibilidade de um tal Acontecimento podia ser revelada, mas não se devia dar indicações que permitissem situar o Per­sonagem. Somente Ele era o Mestre da Hora.


 

Eu compreendia, enfim, que manifestar curiosidade teria sido, da minha parte, uma falta de respeito. Eu devia esperar, eu me esforçaria por saber esperar.

 

E, no silêncio, que o leve crepitar do fogo na lareira parecia aumentar, em vez interromper, permanecemos assim, imóveis.

 

Os pensamentos se sucediam com uma velocidade louca em minha cabeça, eu revia os dias vividos desde o meu encontro com o Sr. Olivier. De súbito, uma ideia fulgurou no meu cérebro, pareceu que meu coração ia explodir, eu me vol­tara para o retrato pregado lá, na parede, acima da cômoda, e foi mais forte do que eu, me levantei... Não via nada além Dele.

 

No dia que findava, o sorriso parecia ter-se acentuado, o olhar, aquele olhar de Chefe, que, no entanto, irradiava uma infinita doçura, aquele olhar parecia me fixar; e eu fiquei ali, de pé, sem pensamentos, com o coração batendo fortemente, e senti as lágrimas escorrerem dos meus olhos.”


* Trechos retirados do livro:  "Revelações: Conversações Espirituais sobre o Mestre Philippe de Lyon"Para compra: https://clubedeautores.com.br/livro/revelacoes-10 


** Michel de Saint-Martin foi um dos grandes discípulos diretos de Jean Chapas e discípulo póstumo de Mestre Philippe de Lyon.





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