“REVELAÇÕES”*
Por Michel de Saint-Martin**
A CARIDADE (O DESTINO, O LIVRE-ARBÍTRIO)
“Crer que nesta Terra possamos ser felizes plenamente enquanto todos aqueles que sofrem não terão cessado de sofrer é dar prova de uma mentalidade bastante singular. Que tenhamos momentos de repouso, está bem. Durante a Grande Guerra, os soldados que voltavam de “lá”, em licença, tinham o direito de rir e ser felizes com esse descanso, mas quantos, nesses períodos de trégua, não tinham às vezes terríveis momentos ao pensar “naqueles que permaneciam lá”; é que então o melhor do homem subia à superfície, é que aqueles que estavam no fronte eram capazes, quase todos, de dar a vida para salvar um irmão de armas. Esses compreenderão estas palavras, o verdadeiro poilu da França saberá que isso foi verdadeiro, assim como aqueles que se viram na impossibilidade de ir lá, independentemente de sua vontade; não falo daqueles que fizeram de tudo para se esconder, deles só vou dizer uma coisa, é que eles são mornos. E os mornos, o Céu nem sequer olha para eles.”
OS SOLDADOS DO CÉU
“Quando Nosso Senhor, por seu sacrifício, nos resgatou
do Príncipe deste Mundo, do Demônio, se tivéssemos acreditado Nele, como alguns
acreditaram, e se tivéssemos seguido Seus ensinamentos, como alguns o fizeram,
praticando a Caridade e amando ao nosso próximo como a nós mesmos, seríamos,
também nós, homens livres, como se tornaram aqueles que seguiram os preceitos
do Mestre.
Ora, esses homens livres, que souberam praticar a Caridade
para seguir Nosso Senhor, reencontraram, com sua liberdade, sua pureza de
antes da Queda.
– Mas então por que eles voltam à Terra? Unicamente
por nós? A fim de nos ajudar a pagar nossas dívidas?
– Claro, meu amigo, não acabei de lhe dizer que eles
seguiram os ensinamentos do Mestre, e Nosso Senhor não disse: “Em verdade, em
verdade vos digo, o servo não é maior que seu senhor, nem o apóstolo maior do
que aquele que o enviou. Se souberdes estas coisas, sereis felizes desde que as
praticardes”? (João 13, 16-17). Então, eles seguiram esse ensinamento,
e eles pedem ao Pai a permissão de voltar a este mundo para nos ajudar.
OS SOLDADOS DO CÉU II
“Eu tinha em mim mesmo a mais absoluta certeza de que tudo aquilo que acabara de me ser dito era verdadeiro. Sentia o peso esmagador (a palavra não é demasiado forte) do segredo que aqueles dois homens detinham, e compreendia que eu não devia perguntar nem o nome que portara Aquele de quem falávamos há pouco, nem nada sobre os lugares e fatos que poderiam fornecer uma informação mais precisa. A possibilidade de um tal Acontecimento podia ser revelada, mas não se devia dar indicações que permitissem situar o Personagem. Somente Ele era o Mestre da Hora.
Eu compreendia, enfim, que manifestar curiosidade teria sido, da minha parte, uma falta de respeito. Eu devia esperar, eu me esforçaria por saber esperar.
E, no silêncio, que o leve crepitar do fogo na lareira
parecia aumentar, em vez interromper, permanecemos assim, imóveis.
Os pensamentos se sucediam com uma velocidade louca em
minha cabeça, eu revia os dias vividos desde o meu encontro com o Sr. Olivier.
De súbito, uma ideia fulgurou no meu cérebro, pareceu que meu coração ia
explodir, eu me voltara para o retrato pregado lá, na parede, acima da cômoda,
e foi mais forte do que eu, me levantei... Não via nada além Dele.
No dia que findava, o sorriso parecia ter-se
acentuado, o olhar, aquele olhar de Chefe, que, no entanto, irradiava uma
infinita doçura, aquele olhar parecia me fixar; e eu fiquei ali, de pé, sem
pensamentos, com o coração batendo fortemente, e senti as lágrimas escorrerem
dos meus olhos.”
* Trechos retirados do livro: "Revelações: Conversações Espirituais sobre o Mestre Philippe de Lyon". Para compra: https://clubedeautores.com.br/livro/revelacoes-10
** Michel de Saint-Martin foi um dos grandes discípulos diretos de Jean Chapas e discípulo póstumo de Mestre Philippe de Lyon.
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