Estamos publicando esta resenha como uma singela homenagem ao nosso saudoso amigo Sebastião Geraldo Breguez. SB era o representante no Brasil dos “Amitiés Spirituelles”, Associação fundada pelo grande Mestre Paul Sedir e ainda ativa em Paris; Além de martinista, possuía sérias linhagens budistas. Na vida profana era jornalista (correspondente internacional), escritor (especialista em folclore) e professor universitário em Belo Horizonte (MG). Breguez faleceu em 2018. Possa sua Rosa florescer sobre sua Cruz!
Por Sebastião Breguez
Desde a Antiguidade, a figura misteriosa do Rei de Melquisedeque esteve presente na meditação de sábios do Cristianismo, do Judaísmo e mesmo do Islamismo. Na Bíblia, o nome Melquisedeque está assinalado três vezes. Na Gênese (Cap.14), Melquisedeque é Rei de Salem - talvez Jerusalém -e Sacerdote do Deus Altíssimo.
O
texto bíblico fala de seu histórico encontro com Abraão. Sua importância está
bem assinalada por São Paulo na famosa Epístola aos Hebreus na qual está
escrito que a Jesus Cristo foi dito: "Tu és Sacerdote para a
Eternidade, segundo a Ordem de Melquisedeque". São Paulo também se
refere ao conhecido Salmo 110 que se exprime muito claramente quanto à grandeza
e à função sacerdotal do Messias. Não se trata de um sacerdócio comparável ao
dos Levitas, mas de uma função sacerdotal eterna exercida por aquele que está
sentado à direita de Deus.
Melquisedeque,
que é "sem pai, sem mãe, sem genealogia, que não tem nascimento nem
morte" (HEBREUS, 7,3) é ele o Cristo? Afinal, quem é, na realidade, esta
enigmática figura bíblica?
Estes
são alguns dos objetivos da pesquisa do historiador francês, Jean Tourniac,
publicada em livro, na França, com o título MELQUISEDEQUE E A TRADIÇÃO
PRIMORDIAL (1). A obra é o resultado de uma tese de doutorado na Universidade
de Rennes. O estudo está dividido em cinco partes. Na primeira, o autor trata
de Melquisedeque e a tradição primordial na obra de René Guénon. Na segunda,
ele analisa o papel de Melquisedeque no Judaísmo. Em seguida, apresenta
Melquisedeque no Islã. O quarto capítulo mostra a importância de Melquisedeque
no Cristianismo. Finalmente, analisa o tema Melquisedeque e a iniciação
sacerdotal.
Melquisedeque
é também Rei e Sacerdote, seu nome significa "Rei da Justiça" e, ao
mesmo tempo, "Rei de Salem", ou seja da 'Paz'. Seus atributos, como
Rei da Justiça são a balança e a espada, os mesmos do Anjo Michael, considerado
como Anjo da Espada, da Justiça e do Julgamento. Encontramos também nos
escritos sobre os Essênios (ver os Manuscritos do Mar Morto) referência ao
Mestre da Justiça, que é normalmente associado ao mito do Julgamento Universal
e do Messias Militar e Político (que aparece na Humanidade no final de um ciclo
e começo de outro e que está também associado ao mito do Armagedom, ou Guerra
Santa, de que trata as Escrituras).
A
significação mesma do papel e da importância de Melquisedeque na Sabedoria das
Idades, principalmente, no Esoterismo Cristão é vista de formas bem
particulares. Assim, Mestre Eckartshausen em A NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO, vê nele
um "instrutor da verdadeira substância de Vida e na separação desta
substância do veículo mortal que a aprisiona". Jacob Boheme, o místico
sapateiro alemão e brilhante kabalista, fala de Melquisedeque como o equivalente
do próprio Cristo: o sacerdote do Altíssimo é a própria figura do Cristo. Os
mestres franceses Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint- Martin também
fazem alusão a este personagem pouco conhecido da massa, mas que os estudiosos
esotéricos consideram como Deus entre os homens. Também escreveram sobre o Sumo
Sacerdote de Deus, entre outros, Joseph de Maistre, Anne Catherine Emmerich,
Jakob Lorber, Saint-Yves d'Aveydre, sem falar do grande esoterista francês e
que é leitura fundamental dos maçons europeus, René Guenon, que deixou uma
vasta obra de uma profundidade sem igual. Também Sedir, este estudioso francês
que junto com Papus (Dr. Gerard Encausse) criou em Paris a Universidade de
Magia Prática (início do século XX) e que depois abandonou o ocultismo para se
dedicar a difundir uma nova interpretação esotérica dos Evangelhos, escreveu:
"Atrás de Moisés, encontramos o Sacerdote sem pais humanos, o Rei de
Justiça, Melquisedeque, filho do Sol...Por Melquisedeque e Moisés chegam aos
mortais, as bênçãos divinas que curam os seus males espirituais".
Enfim,
o livro de Jean Tourniac é de extrema importância para acabar com a antiga
discussão sobre a verdadeira origem das grandes religiões da Humanidade: o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Todas as três têm uma origem comum e
uma mesma fonte: o patriarca Abraão, que, após vencer os inimigos de Deus numa
guerra santa, foi abençoado pelo Sumo Sacerdote de Deus, Melquisedeque, Rei e
Sacerdote - Rei da Justiça e de Salém, isto é, da 'Paz'. Na verdade, as divergências
destas três religiões originadas através Abraão é causa ainda de muitos
conflitos sangrentos no Oriente Médio, que é um barril de pólvora, na história,
antiga e recente da Humanidade. Que o livro sirva de ponto de apoio para
debates sadios entre árabes, judeus e cristãos. E traga a paz permanente entre
todos os povos.
(1) MELKITSEDEQ OU LA TRADITION PRIMORDIALE, de Jean Tourniac, Paris, Chez Michel, 330p, 2004. Veja edição em português da editora Madras.
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